sábado, 18 de abril de 2009

A doze of shards on a yard of roses


Come and rescue me from in the water deep

Careful now! - don’t lose your aim:
the road ahead is clear
- again I haven't found it yet...
(...)
If everybody knows just who you are
When your walk on role becomes a major part
Have you ever attempted to be yourself?
When everybody wants you to be someone else...
(...)
You probably see the things you tried to free
Bigger than you but less than me
Have you ever attempted to be yourself?
When everybody wants you to be someone else
Up and down and back again
Going up and down and back again...

[Up & Down & Back Again, by Powderfinger]


Você me deixou, uma vez mais, tão rápido que mal pude sentir o teu calor, ou o cheiro saturado da tua pele nas roupas surradas... Tuas palavras escorregam entre nós, se esgarçam e rompem em mil pedaços que flutuam e dançam em minha mente, sem significado que possa extrair... Me desamparam... Mas eu insisto em permanecer de pé, insisto em estar com todos meus músculos a postos para lutar por eles - por ti... por ela... por Uriel... Isso é ignorância minha?

... As pessoas nos olhavam como me olhavam antes...

Meu garoto quase morto respira e aspiro dele um ar irretratável de otimismo... Ele brilha...

Observo a minha vida com uma curiosidade doentia, enquanto seus rumos me parecem misteriosos, intrincados e sarcásticos... As vezes me escuto falar, ou me vejo fazer coisas, para somente depois me dar conta que o sujeito ali... era eu...

Quando foi que perdi a objetividade tão crua e fácil das minhas decisões, quando deixei de me sentir onipotente em relação ao meu destino, e ao destino daqueles que me cercavam?... Eu sei a resposta, não é mesmo? Talvez a pergunta é que seja outra...

Pela janela eu leio um Mundo tornado estranho em tantos matizes novos. Complexo em tantas implicações morais, políticas... ou simplesmente... em tantos desentendimentos... o peso marcante das perdas que jamais havia conhecido... Esperei ver algo que me levasse a outra surpresa, que me arremessasse, talvez, no conhecido jogo de lâminas, como há poucas horas, quando enterrei
Fenris Fang no coração do Guardião...

Quando eles estão em perigo... Sei que devo protegê-los... Mas quando o perigo não são projéteis, ou raios, ou espadas?... O que faço?... Eu... estaco... sem fórmulas e estratégias... e tudo foge... palavras... nexos... possibilidades... Olham para mim e sabem que sou um vaso vazio... Um cão que só conhece um único comando...

O Mundo todo espera para ser salvo, Drako merece ser salvo, meu filho merece ser salvo, e Kuroi foi colocado nesta lista também - mas, O Cetra e o Lobo me fazem crer naquilo que eu mais temi: não será pelas minhas armas que isso será possível...

Que papel terei então?... Serei o espectador... talvez, um animalzinho de luxo, levado ao passeio... os olhos tontos testemunhando sem compreender ao certo o que os donos fazem...

Eu penso de novo e de novo: - que dom preciso ter para ser útil? Como adquiri-lo? Será que me cabe tentar? Será que posso ter essa arrogância?

Meus passos se calam no asfalto enquanto volto para um lar que não é meu, para uma mulher que não é minha, mas me espera... Onde estão todos aqueles parecidos comigo?... O que fazem?... O que são agora que todas as guerras são contra o Fim do Mundo?...

Talvez eu jamais devesse me perguntar todas essas coisas... Talvez a dúvida seja mesmo, como diziam no Treino, o cheiro do fraco, o point-blanc em nosso peito que atrai a queda e a derrota... Mas foi através dela que eu rompi com a Shinra... E que me permiti ouvir o Santo... E depois... ele... E ela...

Gostaria de que aqueles cabelos dourados estivessem a minha espreita... Poderia ajoelhar-me junto ao seu colo... E deixar um silêncio me invadir... E ela, ela me daria redenção... Quem sabe pudesse me explicar... Quem sabe pudesse pôr para dormir essa coisa fria e férrea que tem se inosado aqui por dentro, e espremido meus pulmões, e roubado o fôlego de tudo o que jamais quis dizer...

Sonhos... A realidade não me foi dada assim... E quando luto contra ela... É somente para receber de volta a humilhação de que não é mais meu direito impor vontades...

Quando abro a porta e avisto curvas e a maciez de frases femininas, não encontro ela. É outra que está ao meu alcance. É outra que não é para mim. Escuto-a com sede, e bebo em goles pequenos, por medo de avançar ao jarro... Sou embalado pelo som ritmado e fogoso do sangue em suas artérias, quando me enlaça... Perfume de pimenta... Todas suas belas utopias me acariciam - mas eu luto contra a sedução de sua esperança, em verdes de talos partidos de capim e erva-doce... É fácil deixar-me capturar em seu jogo... Seria ainda mais fácil tentar tomá-la para mim, como se fazendo isso eu corrigisse todo o desvio da minha vida. Como se a felicidade fôsse algo tangível, morno e capturável... Como se presenças fossem juras eternas... E gestos fossem garantias... Beijos fossem futuros já brilhantes... Abraços fossem o tal amor, incorruptível, insubstituível e tão forte quanto a Criação...

Interponho eles no caminho entre nós... Já muitos em meu peito e poucos ao meu redor para que aceite abrir esta porta, outra vez... Teus cabelos de fogo atraem esse olhar tolhido - tu também tens a ele, nem que eu me permitisse... Tua resolução me cala tantas perguntas... É tão grande a tua certeza e tão simples teu plano que escondo o tanto de negro no mais profundo dos meus alçapões... Não... você também tem a qualidade de limpidez a qual não ouso turvar - nunca te darei a me ouvir...

E enquanto penso no que me propões... Divago sobre quem gostaria de me tornar... Descubro que, subterraneamente, continuo rezando por uma brecha, e então, usando uma finta e o pulso capaz - que jamais erra - finalmente apunhalaria essa maldita sina, esse tropeço na História... E poderia servir o Mundo numa bandeja para eles...

Meu olho arde e o fecho. Deus... me salve do que sou... me ajude a ser mais... como um homem... mas a desejar... menos... como um cão...