sábado, 13 de dezembro de 2008

Standing'n black... paint it back...

Esse casco de metal me leva de lá... E a eles também... Desafiamos as tempestades do Céu, a própria gravidade... Asgard... permanece cravada naquele solo congelado, como uma adaga de ouro...

Recuperamos ele... Eu o olho agora, com insistência. Todo o instante me agito... ainda penso que posso acordar... e me ver sentado em outra soleira de porta... sozinho... buscando, buscando...

Apesar dele estar logo ali, todos estamos em silêncio... Ácido, cheiro de lágrimas contidas, um sal interno qualquer, sangue de bocas mordidas... Vestígios de uma nova procissão de luto... Uriel... reencontraremos ele, perdido para sempre... sim... ou talvez não... Levamos teu pai para ver-te, desta vez...

Ele... Uma muralha inacessível... Duro, firme, ausente... Pedra... Granito... Não devo tocá-lo, eu sinto... Ou falar com ele, tampouco... Eu quero... Mas é ele que me avisa, calado... Ele permanece de pé simplesmente por estar assim - impenetrável... Se alguém atingi-lo agora... Respeito a sua dor. E velo contigo tudo que enterramos... eu o acompanho... nesse funeral de lembranças...

Rosas que florescem no inverno... Gosto de ferro entre os dentes... A paisagem move-se e desvela-se como um longo, interminável, cadáver. Aqui de cima, analisamos, cada um a sós, suas feridas abertas, uma a uma... E então outro tempo, o olho - e sinto que posso. Mais forte que tudo, o impulso - a fé de que lutando alcançaremos um futuro. Sim... ele está logo a minha frente...

Escuro, lá fora, e eu me recolho sem luzes, costas nesse macio... Esta noite, somente a presença dele não me traz paz... por que?... Algo... algo cava me peito, sem trégua... Uma falta, escondida de mim... Tons de negro, pardo, cinza - brasas soprando vermelhas do fundo do Mundo... A espuma dos vagalhões... trovejando... chumbo e um branco que só é branco em minha mente... E nada disso me sossega... Minha missão não me distrai... A tristeza de minha família não me ocupa...

Há um peso só meu nesta longa madrugada... Invisível... Irreconhecível... Eu... poderia fechar os olhos... e... sonhar que o encontro?... esse algo... que perdi? ... O que?...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Arrising bird flies... falling star dies... dry wind byes...

[editado]

Azul...


Tão azul... Tão estupidamente azul... E você...

Você... lá dentro... Como um fóssil de uma libélula, preso em ambar... Você... Truncado no tempo. Atado no espaço... Justo você... Senhor dos ventos... Filho do Sol... Você, parceiro, que passa pela vida de todos como um furacão de bençãos...

Eu te encontrei... Mas... não como eu esperava... Você... Derrotado também... Sim... Ele havia me precavido... e... eu penso agora que sabia que ele estava certo... Você não teria desaparecido... Se não tivessem...


Quis cair sobre aquele cristal com um grito tão extremo quanto todo o sentimento que rasgou-me por dentro. Do meu coração, um enxame ardido. Por que todo este sentimento devastador não pôde vibrar contra ele?... Que o arrebatasse em cacos, com a mesma inclemência com que me botou de joelhos diante de ti...

Que eu pudesse te libertar... E mais: tudo voltasse a...

Mas... Eu, nós, vencemos, afinal, não foi? Esta batalha...


Pude chamá-los enfim... Os chamei por ti... E teu nome... entre nós... como uma oração profunda...

Foi aquela que tomou de ti as formas... Aquela que me confunde... E me hipnotiza... Meu perigo... Ela trilhou comigo o branco e o negro quase sem fim... Neste meu peito a fé... A fé forte, inabalável - a certeza... Cada batida... Dividida entre você... eles... e... ela... Meu Sol... ... ... eu te achei...

Que eu fôsse a espada sem bainha a cortar tuas amarras até o fim... Que eu fôsse o louco que insiste em ver um caminho...

Como eu pude ter estado tão perto... e não ter te resgatado antes?... Corel, mais adiante... Entre os reecontros naquela grande ferida da terra, a falta tua... Cada um de nós, sem poder mais suportar saber do teu exílio... Uma sensação plena de urgência, de atraso... te ver livre - rápido!

Luzes inventadas pelo homem, descendo sobre ti... A terra em minha carne viva... Não pude descansar... Testemunhando tão de perto, cada segundo, a tua cova em vida... Meu filho, tão crescido deitado contra este peito oco, exaurido...


Precisava - preciso - que o céu dos teus olhos voasse sobre mim. Eu fecharia o meu em gratidão... Quero a tua sombra firme encobrindo este resto cansado que sou eu, só um instante, e se tua voz chamar meu nome como antes... Eu me ergueria mil vezes...

O pequeno vai ao teu encontro. Mente encontra mente... Ou mais, meu amigo?... Foi assim que o cristal, tão indestrutível, algema que te cercava a tanto, não mais te prende ao sólo. Á solidão... O Sol tocou em ti e tu... Tu... um pássaro... meu olho não pôde te seguir...

Recosto outra vez a testa contra a tua... Tu... Salvo... salvo... De novo, você estará entre eles... Eu peço baixinho... o nome do teu filho... É tanto... sim... você vive... É demais...

Então te levamos ao encontro do teu povo. Cada olhar, a centelha da certeza, a gratidão... Verde como broto que renasce após a chuva... Meu coração, explodindo aqui dentro, uma alegria cujo único fim é esta culpa que me engole... Ela não é nada, perto de ter te recuperado. Por você... por eles... ... ... por mim...

Outra vigília se segue... A mantenho reconfortado pela visão do teu corpo adormecido sob o dourado que te ilumina... E quando tu te acoras, eu vou até ti... Ombro a ombro... lado a lado... Um pouco de paz, mas no fundo, sei que é só o recomeço de nossas lutas... Há tanto, lá fora...
Negro fumo de todo um Mundo que queima na tua falta... O dourado... e um pouco de azul... Vermelho... riscado em mim, neles... em ti... Cores que desbotam...

Pego tuas palavras jogadas ao léu, magras... como um vento árido... Que se passa contigo?... Assim tão junto... não me reconhece mais... E tu... tu te vais... Vento... Rouba o ar dos meus pulmões... o fôlego da minha fala... "Fique"... "Deixe-me segurá-lo contra mim e vaze sua dor, vaze seu ódio..." Eu não disse... Como vento seco... você... meu parceiro... me desfez na tua passagem... Em milhões de folhas amareladas de mim mesmo... você me despedaçou... e soprou todas as páginas de memórias para longe... nossa história, enosada... rolando para longe de mim...

Eu cedo... Não insisto...
Você... como um vento seco, me quebra sob tuas pegadas... tu não te viras mais... Este é o preço pelo que te fiz?... Traidor. Eu sei... Covarde... eu sei... Te achei e te perdi tão rápido...

E todos aqueles dias desesperados convulsionam em mim para fora, um torvelinho... Eu tremo, por dentro. Desabo. Talvez tu não possas me perdoar jamais... Eu não pensei nisso. Quero correr e me livrar de mim mesmo... Não posso. Escondo-me e espero o chamado da luta, porque... mesmo que não me tenhas mais como companheiro... serei sempre o teu...

Outro vai ao teu lado... meu peito morre um pouco... sorri um pouco... O jeito dele... sim... eu o desejo para ti... Será capaz de acender um sorriso em teu rosto tão cinza?... Eu creio... tenho que crer... E o seco em mim, abençoado, não derrama de mim mais nada...

Estrelas que se apagam em algum escuro aqui dentro... Estranho... Com tanto que acabo de reaver... esta dor... E que dizer desta sereia que dirige seu canto a mim, me enganando, esse rosto que é o teu?... Estes olhos que me atormentam de lembranças... o tom dos teus cabelos... e a tua boca... Ela... que me seduz do meu inferno a outra luz...

Ela... que insiste em ficar... quando ele se foi... E me promete... cuidar de mim...

Há muito o que fazer... e eu... nunca soube como...

Cuidar... de mim... Eu... que acabo de descobrir que matarei o filho dela...

Não...

Sinto como se... estivesse fadado... a trair...

Olho para ela, quando ela me solta...

"Me segure mais"

Mas... deveria dizer...

Por favor... somente...


Vá embora...

domingo, 23 de novembro de 2008

Bits of light over my soul, I can bear the sight of my son

[New Edda Arch ~ texto 10,
para acompanhar o arco, ler tb:
http://pattybiakko.blogspot.com/]



Ace...

Obrigado pela sua carta. Foi um grande susto... Uma quebra nisto...

Zero tinha me ameaçado dizendo que iria dar-lhe o acesso ao meu diário... Agora, parece-me que foi bom ter-lhe desafiado - pois ele cumpriu.

Li com cuidado cada letra e procurei imaginar teus dias...

Você me deixa orgulhoso... e aflito... Cuide-se, não se vanglorie demais desse poder... Não queira se tornar um joguete nas mãos deles... mantenha-se livre... pense... pense sempre por si mesmo...

Não confie demais em Zero.

Troy... Não o conheci o suficiente, mas... tive uma boa impressão dele... Fico feliz dele estar ao teu lado. Fico mais descansado sabendo isso.

Vá em frente. Continue firme e ajude no que puder.

Hey...

Ter ciúmes de minha lealdade é tolice.

Eu a tenho por vocês também. Será que entende? Ele precisa de nós agora. Ele tem que ser salvo dessa vez... A primeira vez... que ele parece estar precisando de socorro.

Não pense que eu lhe abandonei...

Não foi isso.

Espero revê-los logo...

Também sinto... ... ...

Me perdoe.

Ash, seu pai.

{dois meses antes do prólogo da 2ª fase}

All the things... and the golden strings... in my dreams... just in my dreams...

[New Edda Arch ~ texto 8,
para acompanhar o arco, ler tb:
http://pattybiakko.blogspot.com/]



Tornei-me um andarilho faz tanto tempo...

Parece que foi a minha vida inteira assim... E que todo o resto foi um sonho... Tsc... estou invertendo tudo...

Ontem... Junon... Atolei-me com o povo... Obras por toda a parte... Minhas pernas, pesadas... Continuar a perguntar, sempre as mesmas coisas e ver os rostos, se apagando... Então... Aquela nuvem... E no meio daquele vapor quente e úmido, naquela brancura... Você.

Minha górgona: você. Meu coração: petrificado. O cabelo, dançando curto e dourado como o Sol. A mesma pose, arrogante. Podia não ser você. Meus pés, grudados nas pedras do calçamento, sem conseguir seguir na tua direção. Teu rosto, súbito, me pegando em cheio. A cor de céu perfeito nos teus olhos. Mas teu olhar, distante. A minha boca... engasgada com um milhão de palavras. Mas quando tu te viras, só um grito, o único: teu nome...

E a nuvem te traga. Eu sinto o cheiro dos teus cabelos. Escuto o tilintar de tuas armas. Teu passo, firme. Sem recato, grito mais e mais teu nome, desesperado, e corro, enfim. O bonde quase me colhe. Eu arremeto por suas paredes, de seu teto reto eu te vejo, seguindo... O céu se prolonga, debaixo de mim, branco, suave, te levando de novo.

Pulo, corro. Mais e mais. Onde esteves? Que te aconteceu? Por que está indo embora de novo? Fique! Agonia, meu fôlego, não mais o mesmo. Estou feliz e perdido e corro, tropeço. Repasso enquanto meus passos ecoam, a cena, te ver, repasso muitas e muitas vezes. É como um milagre. Depois de tantos mergulhos no vácuo... a luz do Sol em meu rosto! Como? Você sempre me salva a tempo... E todas as palavras não ditas como um hino em meu peito. Onde você foi?!...

E acordo...

Simplesmente assim...

Acordo, encharcado de suor.

Ainda é noite. Eu cochilei na soleira de uma porta. E ainda há tantas portas para bater... E vielas... tantos rostos desconhecidos... E lá fora a vastidão. O cinza, o cinza, o cinza...

Será outro dia perseguindo o invisível. O intangível.

Meu ódio especial contra os Weapons... Ainda sem achar neles um ponto fraco... Ainda fugindo. Melhorando. Mais forte. Mais resistente. Acumulando sim umas cicatrizes a mais, mas isso não vai me parar.

Estou de pé ainda.

Onde você está?... Não vou voltar sem você. Em algum canto, eu sei, vou topar contigo. Vou te encarar fundo. Então, vou te puxar contra meu peito e sentir que você é sólido e vivo.

Que é de verdade.

Que sempre foi.

Que eu não estou louco em crer...

sábado, 22 de novembro de 2008

Norns hate, entangled fate - oh, Skuld, it can't be late...


[New Edda Arch ~ texto 5,
para acompanhar o arco, ler tb:
http://pattybiakko.blogspot.com/]



Quem é o responsável por levar de nós o fio de nossa vida e nos deixar ainda de pé, para que o tempo passe sobre nosso corpo miserável com suas passadas de infinitos dias, só para levar pouco a pouco tudo o mais?...

Quem?...


Os meses passam... Eu vou resistir... nem que seja de joelhos... nem que seja me arrastando... Não posso permitir... Me erguer, lutar, protegê-los, procurar...

Onde você está?... Onde está?...

Quando ergo meu olhar do chão e não encontro tuas costas logo a frente... ... ...

Tenho vagado de cidade em cidade... de toca em toca... Sim... Tantos novos lugares. Rostos. Mãos. Gente procurando um recomeço. Gente procurando uma salvação... Como animais assustados...

Tenho tentado fazer o que é certo, ajudar no que posso a cada parada...
Mas sou só um. E esse um, decepciona como herói... Ane me conhece... Ela soube me dizer a verdade sobre mim...

Jogo minha sorte contra os Weapons... os acho por acaso... eles são convidados surpresa por toda a parte... é uma festa dos diabos!... Não acho uma brecha nos filhos da puta... E esse poder... esse legado... Preciso tomar cuidado... Jamais quero ser de novo... o que levanta sua espada contra a garganta do Mundo...


Eu... aprendi com você... e eles...

Ombro a ombro...

Eu...


Pergunto de ti até para os cachorros...

Pergunto de ti até para as paredes...

Por favor... esteja bem... aguente mais um pouco... eu te prometo... não vou te abandonar...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ashes for Ash... [New Edda Arch]

[New Edda Arch ~ texto 4,
para acompanhar o arco, ler tb:
http://pattybiakko.blogspot.com/]


Faz um mês que fomos derrotados... Não escrevi nada sobre isso. Nem vou...

Não posso - não consigo - me detesto em cada detalhe sórdido destas lembranças. Me crucifico e ainda assim é pouco. Pouco demais.

Cheiro de cinzas e metal queimado. Estou sozinho. De novo. Em Corel. Ironicamente a maldita Shinra Corp fez o possível para encontrá-lo, para reorganizar uma cidade deserta. Cidade... - huh! - Inferno!...

Amanhã parto. Vou seguir de povoado em povoado até chegar na sua trilha... Não. Não, você não pode estar aqui embaixo... Não... me nego a crer que você... que você...

... A noite não tem mais estrelas. Nem o calor do teu corpo insone a dois passos do meu. Sem teu silêncio, o rugir das trevas me impacienta. Como você está?...

Não consigo dormir. Rondo, cavo, farejo... Tão... patético... Chamo, como se você me escutasse... Falo contigo... como se pudesse estar só brincando, oculto, me ouvindo... E quando o dourado fosco luta contra o pó do céu, eu quase te sinto ao meu lado... Só um instante... e então... aos poucos, a certeza da tua ausência... a procura... e a exaustão a qual não posso me render... vazia de sonhos...

Perdido... Sem uma meta. Sem hoje. Sem amanhãs. Eu sou o culpado. Em meu lugar - para o meu caixão! - teu filho... Eu deveria tê-lo atraído para longe de vocês... Deveria estar com a maldita Huge!!!

Entende?!

Mas...

E se eu tivesse te contado tudo... teria sido melhor?... Ou simplesmente seria o empurrão que te faltava para que fôsses combatê-lo sozinho? Ah... Me arrependo de não ter tentado matá-lo quando ele esteve ao meu lado. Tive tantas chances, tantas guardas-baixas...

Kuroi!!!...

As vezes sonho com isso... Olhos abertos, tão cansado para me deixar deitar, com tanto a fazer antes de ter paz... Sonho, doce, em acabar com a carcaça trapaceira, daquele desgraçado! De tantas formas diferentes. Ah, a vingança... Vê-lo surpreso em seus últimos instantes, virar as costas, sabendo que a ameaça está extinta... E voltar para casa, - voltar, voltar... - receber teu carinho mudo, a folia de Uriel, o olhar atencioso de Ane... A correria das crianças ao redor de minhas pernas e a solidez do Santo... Uma tarde com Ace, vendo-o montar suas geringonças, escutando-o falar... Cervejas com Troy. Risadas. Aquele sangue... tão bem pago! Minha crueldade tão bem recompensada, diabos!!!

Escrevo isso e noto: não é mais remédio... Não tenho alívio em confessar essas coisas, como antes. Sequer conforto em desabafá-las. Não... Essas palavras apontam da tela para mim e me dizem: - Você mereceu, mas eles não...

Estou só... Carrego este peso e esta dívida para com o Mundo. Para com aqueles que estimo. Tropeço a cada passo no que perdi e no que não posso mudar.

Eu errei.

sábado, 15 de novembro de 2008

Shoulder by shoulder, red & blue, golden & dark as you and I

Drako...


Te traí...

Não como você imaginaria - se eu realmente fui até o fim com este plano e obtive sucesso em roubar a Huge de suas mãos... Pior: menti.

Fiz isso com todas as minhas forças. E foi quase impossível, como eu sinto enquanto escrevo isto, num canto escuro deste bar, vencer-me e ser tão desonesto em frente aos teus olhos... Fingir para ti. Dói.

Mas se você está lendo isto, é sinal que terminarei este ato. Que deixei com Ace a senha para você entrar aqui e saber tudo que guardei tempo demais...

Agora é a hora de deixar para você a verdade. Leia e use o que puder.

Decidi que faria algo por você, sozinho, após o incidente com Kuroi e Jenova, em Junon. Percebi, enquanto esperávamos que você acordasse, que precisava lhe ajudar - lhe dar uma chance de salvar nosso Mundo. É o teu maior sonho. E tornou-se o meu também. Eu vislumbrei finalmente minha missão: protegê-lo deles.

Sabe o quão ruim eu sou em decisões. Mas parti seguindo o rastro deles através do mar e tua Fenrir veio comigo. Quase você. Sou grato a ela. Sempre.

Perto de Costa de Sol achamos os N-Code. Kuroi não estava entre eles e mudei minha estratégia para uma rápida rendição. Pedi a Fenrir que voltasse para você - o fato é que não acreditei que hoje ainda estaria vivo.

Ambos sabemos que tive mais sorte que juízo. Serviu para angariar informações e vou passá-las. Os N-Codes que estão com teu gêmeo, os estudei. Explore a lealdade deles, pois Kuroi os trata à base do tacão, desprezando-os abertamente. O mínimo gesto de cortesia e respeito desperta neles a chama da traição. No que se transforma em animais, um toque gentil mudou a atitude. Naquele que fala bastante e parece muito arrogante, com sorriso vulpino, a consideração pelas suas palavras irá trazê-lo para o seu lado, detesta a forma subalterna e indiferente com que seu líder o trata. Estive perto o bastante de um terceiro, sem um dos olhos, como eu, e que só ouvi rugir - parece sempre no limite da fúria - este eu creio que deva ser seduzido pelo reconhecimento de sua força e de sua coragem, ele parece necessitar colocar a prova, mostrar, o poder de seu corpo e de seu espírito selvagem...

Conheci teu irmão. Ele falou de mim e para mim como se fôssemos íntimos. Ou ele tem uma grande ciência de sua vida através de espiãos... ou algum tipo de elo contigo... Talvez você saiba a resposta. Ele sabe até mesmo o nome que você me deu.

Mas Kuroi não parece teu gêmeo. Preste atenção, entenda que isso aqui que deixo e que a minha luta contra ele são ambos meu tributo a você e à nossa luta. Um tributo àqueles que amamos. Ao futuro, Drako. Não desperdice essas palavras.

Ele diz coisas sem coerência ou lógica. Só posso imaginar que esteja fora de si. Ou louco ou controlado por Jenova, o fato é que ele perdeu-se. Não sei se há salvação possível. Prometo a ti que tentarei, antes de sacar armas do coldre.

A filosofia dele é que os humanos estão destruindo o planeta. E que antes, destruíram os Cetras. E ele, que se julga um vingador dos Cetras, acredita que a única forma de salvar o planeta é através daquela coisa... Jenova... que ele chama de 'mãe' o tempo todo: A Mãe de Todas as Coisas... Ele pretende dar a ela as Huges e deixá-la varrer este Mundo. Acredita que ela poupará àqueles escolhidos por ele para um novo Começo.

Eu ganhei tempo com ele e essa missão graças ao fato de mentir-lhe. Confessei que eu era pra você uma ferramenta abandonada. Foi o suficiente. Imagino que algo sério aconteceu entre vocês no passado, para que ele acredite nisso. Para que ele diga que você promete, mas não cumpre.

Vou continuar com o que descobri: ele e os seus N-Codes são nômades. Mas têm acesso através de um portal a um lugar onde se escondem e onde guardam as Huges e Ela... Kuroi chamou-o de 'A Cidade Perdida'. Uma floresta branca no interior de uma gruta congelada, cheia de lifestream.

Drako, ele sabe de cada passo seu. Sabia que estava em Nibelheim, enquanto falava comigo. Ele me disse que você entregará a ele a última Materia. Disse-me que você mesmo vai trazê-la para ele.

Não venha. Não faça isso. Lute. Impeça Jenova. Eu te deixo nas mãos de Troy e de Uriel. Sei que eles serão teu esteio e trarão luz pros teus olhos, jamais ficará só.

Relembro agora cada um de nossos instantes. Desde o mais marcante até o mais insignificante. Todos. E uma calma me preenche, entende? Tive tudo por poucos dias. Tanto além do que imaginava ser a vida, tanto mais do que merecia. E assim é que te digo, outra vez, e não minto, ombro a ombro, estarei sempre contigo, sempre, e pedirei a esse Deus, se Ele existe, que te abençoe e proteja a todos os que estimo.

Adeus.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Indigo blood & underlies skin - you, as my kin, as we could...

Estas frases são para você,
Ace.


Começamos mal. Quero corrigir isso - preciso que me dê outra chance. Antes que desista de ler, pense: "Posso descobrir os podres deste monte de estrume". Refaça comigo nossa história - e pense que eu mereço o descrédito, mas que o amanhã pode ser diferente.

O início, eu lembro, claro como corte de navalha: chovia muito, amanhecia. Voltava de minha ronda rodeado pelo silêncio, sondando, sondando o nada, paranóico - dormia e comia há quase um mês sob o teto do Santo e ainda esperava a invasão da Shinra àquele santuário. Senti teu cheiro ao alcançar os degraus - na maçaneta. Adrenalina e programação, coisas que você desconhece - e que permaneça assim.

Invadi por uma clarabóia no teto da ala oeste. Passei pelos mesmos vultos e sons. Saquei Banshee, o chão não gemia. Te encontrei aos pés do altar-mor, enrolado num cobertor escuro, ressonando - as costas contra a parede.

Tenho certeza que lembra... Uma faca na jugular e um sujeito estranho sussurrando perguntas em tom de ameaça é algo que fica na memória... Entenda, agora: o confundi com um de nós. Foi o cheiro - como uma assinatura inconfundível: a carne dos CANNIBALS. Não fui lógico, não fui racional - nunca fui bom nisso - devia ter percebido que tu não poderias estar ali para me interceptar: novo demais, relaxado demais, desprecavido.

O Padre me deteve aquela manhã - você me perdoaria, porque eu teria acabado com você? - ele te salvou. Por um triz... Foi a firmeza dele, seus argumentos claros, o tom calmo, que me desarmou.

Desde então você virou uma charada para mim. Uma coisa obscura, que ia e vinha em meus pensamentos, quando eu estava desocupado. Admito: havia algo, rastejando, sob camadas e camadas de negações, lá embaixo, em meu peito. Uma desconfiança... Era a cor da tua pele à luz das chamas - que quase igualava-se a pele dela na luz pálida do alvorescer, mais ambarina - ou a forma dos teus olhos e o jeito de me espiar por eles - quase aquele mesmo medo furioso que via nos olhos dela. Eu bloqueava tudo. "Impossível..." Roía meus dentes e farejava o cheiro meu e dela em ti, teimando - "Loucura, estou delirando..."

Saiba que nunca acreditei ser seu pai. Pelo que sei, devia ser estéril... E não fui alertado de sua concepção. Não tenho instinto paternal. Esse novo papel é um desafio rumo ao desconhecido e ao improvável. Não tive qualquer treinamento.

Cubri minha ignorância acompanhando a rotina das poucas famílias que cruzaram por mim - Drako e Uriel são minhas referências favoritas. Mas também aprendi com o garoto de saias que cuida de tantos pirralhos. E observei alguns em Condor Fort e antes, nos Slumps...

Hah... Imagino... Deve ser difícil agüentar ler isto... Ok. Não estou querendo simplificar nada com palavras. Nem buscar justificativas para te coagir a me desculpar. Não. Isso é minha forma de compartilhar. Minha forma de retribuir as informações sobre você e sua mãe com as quais me presenteou, mesmo que acreditasse estar me golpeando, mesmo aos gritos e empurrões.

Acredite. Quando relembro, gostaria de refazer tanta coisa. Acredite que é uma honra que não mereço: ter a você como filho. E me assusta o fato de que você deixou a segurança da sua família para juntar-se a mim - foi tolice...

Linhas que falam por atos - não é meu estilo. Desta vez, é o que posso oferecer, minha missão me leva para longe de ti. Rude, mas verdadeiro: não estou fugindo deste compromisso. Estou assumindo algo maior - quero abrir para ti um novo futuro. Talvez seja arrogância...

Confia em mim. Faço isso para te proteger. O que tenho de fazer deve ajudar Drako e os que estão com ele a salvar nosso Planeta. Não posso parar, não posso esperar. Um dia, quem sabe?

Sobre tua mãe e eu. Ela me foi dada. Naquele dia, ela era mais criança que você. Pequena, magra, abafada pelo peso dos tecidos luxuosos e hipnóticos com que a embrulharam para mim. Eu cheguei, coberto ainda de sangue, ofegando ainda da ação. Ela estava lá. Mais um móvel em meus aposentos... Bastou-me saber: é minha, meu prêmio por ter superado as previsões planificadas. Cruel - mas de praxe em nossa divisão: todos os colegas mais velhos tinham escravas. Não questionei. Jamais soube de onde viera ou como fôra escolhida. Como fôra trazida para ali. Uma lacuna que hoje me atormenta. Você saberia isso?

Fui imoral - não, melhor: amoral. Ela não significava "amada", "amante", nem sequer "indivíduo". Eu não a tinha como uma igual - ela era minha propriedade, um objeto utilitário. A esfregava na cara dos meus rivais do CANNIBALS - ela era a prova em carne do quão rápido eu subira, um troféu pelas minhas realizações. Era minha boneca em todos os jogos... Além disso, sustentava minha existência vazia com sua presença firme e determinada. Sintonizada comigo, como eu jamais valorizei antes... Cozinhava. Ouvia. Cantava e dançava frente ao meu tédio. Posava nua quando eu voltava semi-catatônico. E eu? - despejava nela o mais escuro de mim, vomitava nela o que me corroía, sem piedade, aos berros, aos empurrões, machucando.

Raras vezes... permitia-me usá-la como abrigo. Era quando mais me constragia... Era quando só podia haver ela e suas mãos pequenas e macias, sua voz numa melodia suave, seus olhos, fortes e doces, a batida de seu coração me acolhendo num abraço... O mundo se dissolvia e eu ficava em branco.

Errei tanto com ela e de tantas formas e com tanta veemência... não entendo como ela pôde ainda me aguardar e desejar que eu a buscasse!... Ela parece não ter lhe contado as piores coisas sobre mim - não mereço que ela calasse meus pecados... Te confesso: fui vil - tentava torcê-la quando ela abria a guarda e se importava comigo ou nas horas em que eu me sentia transformado por ela. Quis quebrar seu espírito. Ela jamais deixou: até o último olhar que trocamos, ela mantinha-se sem baixar os olhos, indomável, majestosa, digna, confiante, íntegra.

Quando ela se foi - deixa te contar isso, sem maquiar nada: não senti falta. Não no momento. Cheguei tarde e caindo de cansaço. Uma outra fêmea, nua e com um largo sorriso branco, me esperava no lobby... Decepção e curiosidade - tesão. Foi assim. Eu a tomei na mesma cama, com o mesmo intento e adormeci da mesma forma. Sequer procurei sua mãe nos cômodos - antes ou depoi - para certificar-me dela não estar me evitando, por alguma birra e se ver assim trocada - e sabia o quanto ela detestava quando eu subia em outras mulheres. Foi assim: sem despedidas, sem explicações de ninguém, sem bilhetes ou rastros...

O incômodo - que somente conversando com o Santo identifiquei como "saudade" - cresceu ao longo de várias missões e seus breves momentos de descanso, quando à minha espera estava somente aquela outra, neutra, disforme e insossa. Nem assim pesquisei seu sumiço ou seu paradeiro. Questionar não fazia parte de minha rotina. Hoje sinto que ela me deixou esse oco, aqui, bem dentro. E não há outro que preencha isso...

Sei pelas tuas palavras o fim dela... Porque a jogaram aos Prostíbulos? Foi porque ela engravidou de mim? E como ela pôde? Por que se esforçaram em acobertar isso e por que iriam permitir que você saísse da vigilância deles? Nunca soube de nada assim. Não entendo o que lucrariam...

Tuas experiências contadas entre lágrimas e xingamentos ficaram bem gravadas em mim. Me provoca mal-estar saber que não estive lá para te apoiar, nem para ela. Que eu sequer pensava em vocês. Não há como amenizar isso. Também não há trilha de volta, conserto...

As feridas - temos algumas em comum. Talvez um dia possamos falar disso, talvez um dia possa aliviar minha memória contigo. Porém você viveu coisas que jamais experimentei: teve uma mãe e depois a perdeu, foi oprimido sem saber como se defender, roubou só para ter o que comer sob culpa. Sim, fui oprimido - mas não era indefeso. Sim: eu roubei, lutei, apanhei e mesmo matei para ter o que comer, para sobreviver e comer - mas sem culpas, e depois por orgulho.

Se pudesse estar ao teu lado... Nenhuma mão chegaria em ti. Seria teu telhado na chuva. Teu cobertor no frio. Teu guia quando estivesses perdido. Teu companheiro se sentisse-se só. Tua mão jamais se sujaria, pois não te faltaria o que comer. Nem para quem voltar...

Se eu voltar e você estiver me esperando...

aquele que chamam por Ash.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

One

Eu nasci num dia frio e inerte.

"N
úmero sete"...

Não que eu não existisse antes... Lembro vagamente de vozes... muitas. Cânulas incômodas repuxando pele e músculos, aqui e ali em meu corpo semi-adormecido. Escaras desse contato... O conforto de um líquido... viscoso e morno, erguendo-me. Uma luz verde, irritante, no meu olho direito.

Lembro de sentir a invasão em minha mente, de tempos em tempos. Não sabia que era eu. E que aquilo era eles. Sonhava com imagens. Frases.
Normas. Inscrito em círculos de instruções. Impulsos dominavam minhas fibras. Um marionete cego, reproduzindo movimentos, mergulhado em subconsiência. Disritmia. Um universo esquizofrênico. Panos sobre panos, sobre panos que não sabia o que ser, parecia querer rasgar - as palavras sem falantes, as falas sem um toque. Solidão, apesar de sentir presenças. Um mundo abstrato, inabitado, meu ego preenchendo tudo e aniquilado. Consigo recordar, com calafrios, suor frio e terror. Não é fácil lembrar, não é simples, ainda.

Hoje as memórias me vêm, muito nítidas: abri os olhos. Um borrão branco explodiu em meus nervos ópticos. Minhas mãos apalparam à frente - um vidro. A blindagem do ventre que me sustentou até aquele instante, sem eu saber, tato - novo, nas pontas de meus dedos -, mas já sentira o vidro, já tinha aqueles dados. Era mesmo como o real. O susto de ver meus dedos, a primeira vez. A ponta curva de minhas unhas. Não deveria ser assim. Então, percebi, além da barreira, um ente, outro, não eu, não os sonhos, outro alguém, um alguém que quando eu fechava os olhos, ou piscava, não sumia, nem mudava de forma.

Era uma menina. A palavra veio, mas não consegui dizê-la, apesar de saber que deveria mover meus lábios para isso e expirar, modulando as ondas com minha língua. Só borbulhas no líquor esverdeado... Encarei-a, curioso, agressivo. Ela olhava prá mim, através do tubo, através do líquido, através de meus olhos. Algo, não sei, uma pontada de sofrimento em algum canto. Eu não sabia que aquilo era sofrimento, não ainda. Mas não reagi bem.

Mesmo assim, continuei fixo nela, rilhei meus dentes. Tinha cabelos muito escuros que refletiam belos esboços de luz e olhos límpidos, colocou a mão pequena e fina palma a palma contra a minha, o vidro nos unindo, nos separando. Li nos lábios dela, um sussurro: A-S-H. E uma sensação de ternura, que também não conhecia nem sabia o que era ou sua denominação, invadiu minhas veias e amoleceu meus músculos. Havia esquecido disto por longo tempo... Mas neste instante, chego a re-sentir, minha visão estremece e sinto-me reconfortado. Eu recostei minha testa contra o tubo e fechei os olhos e quis que tudo parasse e voltasse a ser como... ... ... não sei... ... ...

Naquela manhã, na sala cheia de bips, uma sirene tocou. Relembro o som, ecoando distorcido e abafado no líquor. As luzes, piscando vermelhas e uma coleção de rostos encimando jalecos brancos com o mesmo símbolo no peito, na manga. Relevos metálicos ao redor, botões, painéis cheios de gráficos e flashes, e o zunido infernal de uma multidão de máquinas e aparelhos trocando mensagens eletromagnéticas.

A subida daquele muro que dizia: este espaço sou eu. Como num parto, minha água, lançada ao chão. Esvaziado. A nudez ao alcance deles, misturando-se a eles. Sentimentos de agorafobia. Uma centelha em mim crescendo e apagando-se, em brasa: presas - superiores - presas - superiores - onde está minha casa? Casa - palavra fora de sintonia, ruído.

Agonia: ar solubilizado em água por ar seco, pulmões queimando, traquéia, narinas ardendo. Então o olfato. Reconhecer o peso do meu corpo. Pressa e medo. Missão. Ativado. Sobreviver. Ser o melhor ou morrer, o único teste. Nomes de coisas surgindo a cada ângulo capturado pelos meus olhos. Vozes e posso entender, devagar, o que dizem. Torno-me esperto, alerta, uso suas informações, gestos, tudo que aprendo - sei que sou seu predador, sei que sou seu soldado - algo mais - sussurra um fundo.

Ela. Ainda. Mais atrás, protegida. O olhar assustado e sôfrego sobre mim. Oi, por que me olha assim? Quero... te... esganar...... ... Quero que segure minha mão... ... ... Suas mãos unidas juntas. Meu cérebro fulminou: "posição de prece, pedido de alguma graça, ou reação perante hostilidade e perda de confiança, sintoma de desespero, entrega de objetivos pessoais a algo abstrato que pessoas fracas supõem existir para protegê-las de seu destino". Seu gesto inundou minha retina. Minha boca quis balbuciar algo, mas era destreinada. Está tudo bem... ... ... Eu me seguro... ... Venha até aqui...

Uma enxurrada de mãos e instrumentos tocou minha superfície. Sentidos oscilando, fortes demais, descalibrados. Tantas texturas, sensações. Gelado, gelado, perto demais. Uma seringa, um imobilizador de aço. Quis atacá-los, mas um homem ergueu a voz para mim e meus neurônios queimaram. Contorção de braços, enosando tendões. Eu, prostrado. Primeira lição. Protocolos...

O dia em que nasci ficou nas trevas por muito tempo... Mas lembro, agora, você esteve lá. Por que?... E é como se eu te conhecesse de antes... Como? Quando?!...

O dia em que nasci foi só o primeiro de uma série, tão absurdos que por tempo demais, eu me neguei a lembrar. Ainda assim, você não desistiu de mim. Você sempre esteve ao lado, não é? Uma flor perfumando o vento, mas oculta num jardim murado. Sempre esteve envolvida comigo. Não entendo porque. Agora percebo que perdi de te perguntar. Oi... você... ainda está aí? Eu queria te...

agradecer...
[te levar...]

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Now playing: Gotan Project - Epoca

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domingo, 21 de setembro de 2008

Worn my world, wolf, wonders my words, so wrong

Alcatéia...

Assim chamou-nos a minha origem. Disse que essa era a minha pretensão. Talvez ele esteja certo.

Sinto um dever em mim para contigo. Visceral. Isso eu sei. Então, poderia ser pretensão? Pode ser que ele esteja errado.

Não seria a primeira.

Você é agressivo comigo. Mesmo assim, sinto que devo ser paciente. Instintivamente lembro que ser desafiador faz parte dos mais jovens. E lembro outras coisas minhas que me fazem rilhar os dentes. Coisas pelas quais eu esganaria teu pescoço, só para jogá-las no esquecimento. Ou não?

Não é meu único dilema.

Que fique claro: eu comando. Dardejo teus olhos com os meus. Desfilo minha força ostensivamente. Ainda assim, encara, duvida, troça. Que há com você? Não se importa em por a si em perigo, desde que não rasteje por nada... Ah, e que foi que te fiz?

Tua fúria é estranha, também.

No meio da estrada, teu pêlo. Preto como o meu. E olhei no teu olho. Agudo e violento como o meu já foi há tempos. Palavras ácidas. Síndrome de repúdio.

Mas tua companhia me conforta.

Será engano pensar que somos um par de semelhantes? Porque agora é tarde para recuar à segurança. Já sabe de meus planos, tanto que não contei a ele, e já dividimos minha fúria pelas tuas palavras toscas. Tu tentas me derrubar com que objetivo, garoto?

Acha que não deveria ter te trazido comigo, hm?

Até mesmo minha família, fingida, desejada desde as raízes insólitas de uma alma inventada em mim, te dei a conhecer. Ela é muito mais minha porque a fiz assim. Queria que tu desses passos para dentro. Pareces preferir a solidão.

E o passado, aí está, em comum, ponto a ponto.

Quer dizer que tudo isso e ainda mais, que não digo, pode caber numa única palavra? Nessa designação descrente e humilhante? Pretensão.

Oito patas numa trilha esmaecida e esburacada. Dentes. Pulsos violentos. Tangentes, círculos e paralelas. Você é... minha Alcatéia...?

sábado, 20 de setembro de 2008

The name of the game - it cames, never the same - insane

Palavras... Labirintos de palavras... Redes. Armadilhas nessas distorções de som significantes. Tu me caças através delas... Eu?... Eu as fio para ti, interminavelmente, mudando a direção e o sentido a cada puxada de linha. Como Penélope, ganhando tempo. Ou como Ariádne... Jogos...

Tua loucura corrói cada fibra do teu pensamento, posso apalpá-la no fundo do teu olho, cor de poente, na desconstrução de tuas frases contraditórias com teu semblante. Ainda há algo teu em ti? Ou quando estamos loucos, estamos livres para sermos puramente nós mesmos, um pouco cada voz que nasce em nós, todas, em mesma importância e altura irrompendo em nossas bocas e através de nossas mãos?

Cada nova sentença que deixa teus lábios, meus lábios, é anotação de um julgamento subterrâneo que ocorre agora mesmo entre nós. O meu é: há chance para salvá-lo? Há chance para salvar-te também? E haverá ainda alguma para mim?... O teu, só posso supor...

Arrisco. Vomito o pior e o retorço outra volta. Fui longe dessa vez. Vergonha. "Drako" como uma oração, um pedido de perdão. Uma brecha em ti. Te peguei em minhas linhas falsas. Espio pela tua carne aberta ao âmago de tua ferida. Ondulações rubras, fogo, orgulho, explosão, dentes de leão perdidos numa ventania. Havia algo forte demais. Depois, um ponto de quebra, súbito. A luz agora refratando nessa rachadura em ti e reproduzindo espectros distorcidos - monstros de teus sentimentos, monstros de teu coração partido.

Tu mandas a morte para ele. Eu ruindo. Não posso ir. Não estarei, ombro no ombro. Rasgando dentro ergo para ele minha confiança - ele vencerá.

Passagem. O gesto de tua mão. Não gosto de como me olhas. Passo. Refluo, escoando, um pouco de vocês todos que são como ele. Restos de coisas tuas e de teus semelhantes, semelhantes dele. E de mim, o que roubaste antes de sair do espelho?...

Um lago. Eu não te pertenço, porque este vínculo? A Mãe de Tudo habita um paraíso dessacralizado. O imundo ocupando o altar diante do Crucificado e rindo, devorando. A pulsação contaminada, infestante. Um corpo de enganos e tanta energia. Os olhos...

Conto segundos, agarrando-me à estratégia, fugindo do desespero de ansiar revê-los, talvez sejam os últimos... Aferro-me a meu objetivo, protejo minha razão.

Ainda vivo, minutos depois, testemunha do sintoma de tua queda. Respiro sentindo o peso do que aprendi de ti. Compartilho com ele ou o traio e acabo contigo?... Tu me lanças o teste. Eu avanço para ele, como quem sabe que está para atirar-se do precipício às pedras. Oscilo. Cumpro - desisto - cumpro. Preciso resistir a tudo que me chama de volta e parece mais forte que minha vontade.

Tenho que salvá-lo... Àquele que, um dia, - quando? - foi teu companheiro, também. Àquele que viu uma noite ser iluminada por fogos ao teu lado, eu sei. Sei porque ele o fez comigo também.

Tua improvável salvação pesa sobre mim. Minha improvável vitória pesa sobre mim. A cada passo afundo e é o mesmo nome - o dele, sempre - que alimenta meu peito cinzento e frio. O Sol daquela presença, insubstituível. "Como estará?" a indagação muda tensionando minha nuca, meus pulsos. O céu naquele olhar. Distante e profundo. Maravilhoso e invicto, intocável. Exceto rápidas pulsões. Cada pequeno acorde que são aqueles que lhe cercam.

Junto meu corpo entre penas negras de um coração selvagem. Corra. Voe. Fecho os olhos e tudo se esvanece, como se jamais houvesse existido - mas não há como negar, pois eu não sou mais o mesmo.

Somente me deixe terminar com isto... rapidamente...

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Now playing: Breaking Benjamin - So Cold
via FoxyTunes

sábado, 13 de setembro de 2008

Red roses are blue, I left you but I will never leave you

Covered and coarse
I could wait my turn
to pay them all back
- So original! -
Lets take it all back!
You can hide but I wont, how do you know?
(blacked out and bleeding)
- Take it away!
One look and you'll never believe,
Because, this cant hold us down...

- If I wake up
on my own,
- If something happens,
Please come home...
- Wake me up before you go!

If you never know
That it can never hurt
As much as this does
- Its so original ! -
Lets make this all work
You could run but I wont, how do you know?
(blacked out and bleeding)
Take it away!
One look and you'll never believe,
Because, this won't hold us down!...

- If I wake up
on my own,
- If something happens,
Please come home!
- Wake me up before you go on!!!

You cant hold us down / This wont hold us down /You cant hold us down!

- If you wake up (If I wake up)
On your own (On my own)
- If something happens
Please come home!... (You wont stop us now)
... Wake me up before you go!... (Nothing will hold us down)
I hope your happy on your own!...


[Grand Unification - Part I ~ by Fightstar]

Se um dia, eu acordar e você... Volte, por favor. De cada batalha, volte. Esta é a tua casa... Se um dia, você acordar e eu... Não me procure... Minha morte mil vezes por tua vida. E o azul dos teus olhos que rebate este céu sem limite. Nada me deterá, te asseguro. Nada me daria mais satisfação, eu te juro...

Voltas de cores anil, vanilla, o esmaecer de dourados. Marcado a ferro por ti, eu a permito ao meu lado. Tua Fenrir. Risadas e palavras tuas quebrando meu passado sobre o asfalto. Uma lição pulsante a Sol nas tuas palavras. Roucas. Me alveje, aqui, rente às costelas. Mais um pouco, como em Midgard. Quente e macio. Sangre de mim tudo que fui... A luz nas curvas dela, rebate o metal de tua arma. Nossas lutas, ombro a ombro, a orquestra de metais de nossas lâminas, de cada movimento teu, pesado, ribombar do ritmo marcado, e a harmonia de linhas vermelhas rasgando por minhas narinas...

Eu definho e perco folhas ao longe. Sou inverno, galho seco, espada. Sem guarda. Sem bainha. Tudo que tinha... Fecho o olhar em qualquer sombra. Porque me assombra tudo que abandono. Sem retorno. Ah, estar tão encantado por esta vida me perturba. Porque essa ânsia me turba. E preciso estar imune. Preciso ser somente um gume.
Flecha ao vento. Pelo ar, sem lar, me torno só ponta. Nada mais conta. Não te importes comigo. Sonharei contigo dentro do peito do teu inimigo.

E eis que eles, ainda antes, me encontram. Sorrio. Tambores de batalha clamando aqui dentro. É chegada a hora. Agora, que venha meu destino. Dedico tudo a você, a eles, a vocês... que a venda desta minha alma, que tudo que derramar de mim neste sólo, seja meu poema a ti, a ode que componho com meu corpo a todos os dias que virão diante de teus olhos. Azuis, como o céu deve ser, ainda mais, para vocês. Dourados, como o nascer do Sol afagando teus cabelos. A cada entardecer, vermelho e depois negro, como esta mancha, que fui eu.

Mudo estratégias. Me ofereço. Sou a isca. Engolem-me.

Cada um deles, um pouco tu. Nada tu. Absorbo o que posso, dele, do outro também, daquele escondido. Linhas divergentes da mesma matriz. Teu irmão reina. Me cerca, como um leão louco, de quem o rugido pode anteceder a simpatia, ou o ronronar a morte... Me sonda, entre crer em mim e me apunhalar. Um examinar esquizofrênico. Cênico. Teatral. E me pergunto: o quanto disso é teu, o quanto disso é dela? Quanto mal realmente desejas?

Escuto. Se não vê-lo, quase tu. Cada detalhe, aqui, fundo em mim. Mas minto... Digo-lhe o avesso do que sinto. No absinto desta entrega, assassino tudo, e o que não puder, sobre isso, fico mudo. Sou de novo... vazio... um oco... onde o sopro da vida... produz sempre o mesmo eco:

Morra.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sewing seemings meaningless

O pó...

Tremendo, luzindo, ou sumindo diante do meu olho...

Quanto disso são as cinzas dos que se foram?...

Decomponho movimentos em milhares de imagens congeladas. Cada frase em centenas de indicações além do significado de suas palavras. Sobre-excitação dos sentidos.
Sobre-exaltação de todos os meus sentimentos. Desejar. Temer. Odiar. Os limites se dissolvendo... O sangue turbilhona em mim, jorra em minhas ordens, em meus gestos ferozes. Ter urgência. Apressá-los. Façam algo por ele... Tragam-no de volta! Façam isso por todos eles e por vocês!...

... façam isso por mim...
Agora!

As paredes se fecham sobre teu corpo imóvel -
um caixão! Eu arfo. O vidro isola-o de mim - eu enlouqueço. Memórias riscando as paredes de meu cérebro. Tubos como os... Os vigio... Tubos... Suas carnes caindo, desintegrando-se - não, misturo tudo... Me deixe pensar! Tu, despido, mudo. Um boneco sem vida. Tão desprotegido, tão só. Mas está a salvo...

Não posso confiar...

Não posso te deixar assim! Também não posso te deixar... - Dilema... Recordo teus favoritos. Recortes de tuas confissões, de teus gestos, a nuance dos teus olhos. Seqüestro-os para ti. E mirro esperando-te. Esperança. Acorda...

Meu mundo, tão pequeno e quebradiço.
Brotos de samambaias desenrolando-se ao redor do meu peito. Mal respiro. Tudo se passa em minha mente. Cenas atropelando-se... Tua mão sobre meu ombro abrindo meu dia... Jenova e Kuroi borrando tua alma... O volante do carro e paisagens velozes, confiança, ombro no ombro... Uniformes, risadas de Ane. Cheiros, botas e gente demais naquele desfile... Tu, subindo como uma flecha, intangível, partindo e minha voz insuficiente, minhas competências, insuficientes... Huge Materia... Iffrit... Shiva... Nós temos o 21 - disseram. Os olhos de Uriel - os teus - tão perdidos...

Tão... pouco... para arriscarmos você...
Tu, nos ombros dela, estirado... Volutas e arpões... A dor de não ser suficiente para te salvar...

- Que está havendo contigo?!
... Me fale... Me conte... Retorço minha mente. Busco uma salvação em espirais descendentes, me afogo em minha culpa, na mentira honesta que contei ao teu garoto - Onde estás por trás desses olhos vazios?... Está tão frio aqui...

Frio... Lembras? Sim, a partida de Midgard! Escuto no silêncio, outra vez, teus lábios me contarem... Estar sob o Sol... Teus lábios me lembram... morangos... Rujo para eles. Delimito-te para mim... - para... eles... - Rapto-te. Sei que tu me pedirias isso. Sinto... O Cântico entoado por aquele que tu mais queres - só para ti. Escutas?... Teu filho te chama. Escutas? Aos raios quentes e alaranjados, te ofereço. Minhas palavras trêmulas, te ofereço. Quase, quase te toco... Coragem, eu não te abandonei, não me abandones...

Abro uma salva fogos de cores inebriantes em minha escuridão de entranhas, ao som de tua boca - tu, consciente. Tu, de novo, Drako... Bendito o Astro de Fogo que te empresta vida. Bendito o menino que te abraça. O homem por quem tu voltas... Os agradeço por resgatá-lo... Tenho com eles uma dívida imponderável...

Felicidade. Ânimo. Recolho-me em minha falha. Em meu dever contigo. Ombro no ombro. Eles te farão sorrir? Sim... Eles sentarão ao teu lado quando estiveres só e pesado? Sim... Quando tu tiveres uma dúvida, eles te dirão que acreditam em ti? Sim... Tudo parece bem, agora...

... mas não está -
jamais estará!... Entende? Vejo-o: ao longe, ele ainda o tem sob seu ódio. Ao longe, a Coisa ainda o contamina. Uma trama solta, esta onde nos arriscamos. Uma rede que nos prende, ou, se escorregarmos, nos corta... Eu falhei contigo... Uma. Duas vezes! Quantas mais até te perder?!

Não permitirei... Escapo.
Fios rompendo entre nós. O craquelar de uma alma fictícia em mim, posso ouvir. Uma vontade como areia em minha garganta. Um doer. Consertar, é só o que te peço... Me deixe, não se vire, não me chame... E no caminho, Uriel... um abraço dele... doce... honesto... triste... como... uma mesa, morangos e talheres luzentes... Não quero te dizer "Adeus", pequeno. Não sei como.

Separo-me de vocês...
de ti... querendo tanto... voltar... Compreendo que as chances estão contra mim. Poderá me desculpar se eu perder tua última luta? Será que entende que pretendo aumentar tuas chances? E, sim, livrar-te do destino de escolher entre a vida do teu irmão ou a tua, a deles...

Peço a ti, a vocês: me perdoem pelo que não puder fazer...

[2ª versão, editada em Agosto, 28, 2008]

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A bit on u, much beaten by u, always a bitch for u...

Como chegar em ti?... Tuas costas e o céu estendendo-se a partir delas. O Sol se põe, e eu voltei... fracassado. Um segredo - essa mácula minha. Os graus de sombra que escorrem por nós ao chão andam em minutos e horas. Perfeito. Sem palavras - perfeito...

Então elas vêm - ruídos, ondas contorcidas em cores desacertadas, cheios de significados. Distração ao real.
"Gostou dela, não gostou?" Enrolação. Mentira até. Estorvo, enquanto sentidos e gestos são tão mais confiáveis. Detesto-as. "
Só... não faz igual... Não vale a pena... ... Se for sentir necessidade de tá perto... seja ela... ou quem for... o que for... só faz - não pensa... - o pensamento, no final, não vale o esforço... A privação não vale o esforço..." Obedeço. Teu corpo protegido pelo meu - estou aqui, entende? Bem aqui.

Tua boca, sem sorriso. Palavras - as deixo vibrar... Me odeio assim que as lanço aos teus ouvidos - Por que diabos insisto em falá-las?!!
Como pode querer me roubar algo que já está contigo?... Matizes do que sinto dissolvidas em tolices. Tropeções em palavras. Frases decapitadas. As tuas, também. "Então tudo bem quando tudo isso terminá?" Não te digo: - Meu Céu é aqui, não há outro, não haverá outro me esperando. O cheiro do teu cabelo, o pulsar dos teus dois corações, simples, limpo...

Um resto de dourado. Apagado. Inquietações. Tu continuas vendado. Se já viu em mim, preferiu cegar-se. Pó de ossos pelo céu. A matriz de todas as desgraças, brotando de mim. Galhos negros e agudos contra minha razão, rasgando do centro a leste e a oeste, de baixo a cima... Podo, podo - E tu atiras o nome dele contra mim.

Suspenso, uma inspiração. O Santo. Meu olho busca o infinito. Deixo lá meu peito, para sorrir ainda para ti. Corvos aninham-se aqui dentro, no oco. Bicadas. Asas batendo-se contra minha garganta. Nuances demais de negro doendo minha retina. Te entendo. Tu te perdes por ele, mas ele não quer te achar... Gostaria de que adivinhasses - não, que quizesses: hey, pode ser você! Eu faria. Mas te entendo.

Azul frio espiralando contra minhas costelas. Então, um calor ameno. Como pétalas de rosa. E percebo: não importa. Fale com ele.
Aproveite a deixa... Não deixe que escape o tempo que pode estar ao lado dele. Tenha pressa, amigo... Boa sorte... Tu te vais. Ausência. O amargo eu o tomo com fé em ti, e assim tem gosto de morangos... E assim alcanço um sorriso -Por ti.

Desarmado, meus pensamentos fluem, enxameiam. E o pequenino me assalta.
"Então... é aqui onde vocês gostam de ficar... Dá pra entender porquê." Me atrapalho, mas te dou equilíbrio. Medo de altura... não? Você me pergunta de mim. Você me pergunta dela. Talvez tenha outra explicação... as vezes tem... - poucas... Te escuto, filhote. "É?... De onde vieram?" Peço mudo: considere que nasci naquela Igreja, ao lado de vocês... "Não me importo de onde vieram... - Eu sei quem são... posso sentir... As vozes me dizem que... quem são... E elas me dizem a mesma coisa dela... - Que ela pode ser muito boa."

Olho ele, tão sério e jovem. Então o faço rir. Seus gestos... lembram os
dele. Falo sobre nossa missão, pois preciso checar sempre. A Shinra... Você me pede para ser sua família. Nós todos, depois... Eu minto. Como a música diz: "you can't always get what you want..." Por que ele anda triste?... O chama: pai. Tento explicar. Metades.
Ele protege todo mundo... e quem protege ele??? - Eu... Isso basta? Não. Peça ao Todo, por um milagre. Faria isso? Ele te ouviria?

Dor em teus passos. Em tua mudez. Tu retornas muito cedo. Mas estamos aqui e você faz força e ri. Gaivotas. Palavrões. Como uma família... Um beijo em tua cara. O garoto se vai. Ele te adora, sabe? - Eu não digo. Fale comigo, agora. O Padre. Pensa que vai. Não, eu não permito. Te tiro este peso - um peso que nem toda tua força pode mover.

Palavras... Palavras frias. Tuas. Meu passado, minha moral não me dão álibi - sou desprezível, tenho essa capacidade. Mas machuca que tu perguntes. Indiferença nas linhas do teu rosto.
Se tu diz, acredito, e espero que não minta pra mim. Isso me quebra. Mas te perdôo.

Ofereço a narrativa nauseante de minhas tentativas frustradas. Roxo feio, verde apagado, máculas de sépia poluído. Esse fardo não é seu. Não deve. Desentendimentos. Rabiscos entre nossas silhuetas, espinhos. Cheiro de vinagre e metal queimado. Alfinetes sob minha pele.
"Mesmo que eu quisesse, não posso ser pai dele, vou matá-lo, acabar com o futuro dele, como com o meu." Expiro contando. Repenso, ouvindo só o tom de tua voz. Então, entendo você. Quero que me entenda também, consigo?
Essa conversa cavou uma vala entre nós...

Aos poucos, o corpo fala contigo. Para que frases? Algumas ainda escapam. Constrangimento. A maioria é esmagada contra tua pele.
Meu coração as cala. Me jogo inteiro naquela vala para trazê-lo para perto outra vez. E que se foda se me arrebento. É bom. Dane-se se você tem sede de vinho, mas recebe em mim o copo dágua para continuar andando. Se tu pudesses sentir o que sinto, farias ainda pior. Que apague tudo de mim exceto o que resulta em ti. Cole o rosto dele sobre o meu, se isso te faz ainda mais luminoso e confiante. Se te dá força. A inspiração para agüentar tudo, pode vir mesmo de uma pequena coisa - que seja do que te ofereço agora...

No silêncio, borbulhas vermelhas em meu sangue. Me confesso a ti sem dizer nada. O Céu, para mim é... Linhas nos enlaçando. Branco. Suave, dourado. Um azul pulsante. Teu sopro. O hálito de nicotina e o gosto de tua saliva. A textura de teus fios. No silêncio da noite, o corte de um outro olhar.

Ruído. Interrupção. A música, aniquilada. Notas distoantes: -
"
Devia ter mais decência... ou ao menos um pouco mais de auto-estima... ... patético!... E pensar que aposto em você... Que decepção!... Parece uma puta viciada... que dá de graça..." Os cabelos de velho soprados ao negro. Escarra em mim em cada inflexão, sabe que me atinge. Desgraçado. Vejo nos olhos vermelhos dele: esgoto.

A raiva. Para cima, pela coluna, inflama meu crânio. Minha boca em dentes. Apesar disso, tu me pedes por ele. Apesar disso, eu travo. Frente a ele, que se encolhe, eu não avanço. Sua alma torce a minha. Eu poderia torcer-lhe o pescoço.
"Ele não gosta de você!... Estúpido... ... Marionete... ... Joguete..." Asfixio. Seco por dentro. Mesmo negando. O odeio mais por isso.

Tu ouviste. Tu presenciaste... Baixo... Um borrão sujo em frente aos teus olhos azuis demais. Quero me recolher, me esconder para que não precises ver mais. Talvez você acredite nele também. Ou não... Importa?... Meus pés páram. Te vejo só. Tu ficarás aí. Só.

Então... ficarei... pelo menos eu.

Meu olhar fecha pesado envolto em tua fragrância ao longe, mas perto suficiente para ver que não te abandonarei. Tuas últimas palavras, dúbias. Plumas. Espera. O marulho leva o resto...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Trails of tales

Nada de hierarquia. Cordas soltas... O caos desse mundo civil. Afronta. Subitamente, ninguém para interrogar. Protocolos de diplomacia correndo sobre mim. Ela ganhou. Informação fácil para ela. Sequer uma resposta simples para mim. Um a zero... E frente a frente na mesa do Líder Órion. Me sinto estúpido. Ludibriado... Ele não está. Sei que está movendo as peças - resolvendo tudo... É, ainda mais estúpido...

Sigo a trilha dos movimentos dela.
Seus batimentos cardíacos. Pistas hormonais. Nenhum detalhe me escapa. - Exceto a verdade... - Sua origem. Shinra... Uriel gravita em torno dela. Uma ternura carente nos olhos dele. A vibração nova em sua voz. Um incentivo para minha vigília - ele é a presa perfeita.

Ele chega. Saio da vitrine do museu. Um time, outra vez. Troca palavras com ela, atira-as. Sinto no olhar dele, na contração de um ou outro músculo, que ele a está conduzindo, fazendo-a encarar-se, descer do muro. Analiso até mesmo suas pausas... De arma e ameaça, de mulher e tentação, em inocência e doçura. Basta uma moeda. Some e reaparece. Os olhos verdes abrindo-se como os dos pequeninos. A boca, carnuda, num "o". Promessas e lugares mágicos. Ela brilha. Ane está mesmo maravilhada...

Curiosidade. Matizes entrelaçadas e enervantes entre ela e eu. Destrave esses segredos para mim... Onde viveu? Com quem? Como foi sua infância, seu passado, cada um de seus dias até a
Corporação trazê-la a nós?... No que acredita?... Aliada ou inimiga de uma só vez, sem estorvar-me mais...

Flores brancas, miúdas. O ângulo de seu rosto. Delicado. O jeito atrapalhado de comer. Absurdo. A risada que me dói e destoa dela - mas é tão dela...

Quem é você, Ane Marie?

A que veio?

Ele livra-se rápido do prato. Inquieto. Incomum. Entrega-me ela. Não quer que eu faça mais nada a não ser pajeá-la?!... Sei que é importante!... Não é isto... Estar alerta para que não haja sangue. Estar atento para captar qualquer informação... Mesmo assim... assim que ela põe a última garfada na boca já estou me levantando. Quero aquela conversa contigo, e... ... ... Esse não é meu único motivo... Não digo mais que isso.

Ela tropeça, resmunga. Suas roupas. Pego-a com o canto do olho. O grosso das pernas. É... chega a doer. O branco leite. Máculas rosadas. A saia, presa nos cantos da roupa de baixo, clara, macia. O drapeado em arcos concêntricos balançando entre suas coxas. Corro meu olhar pelas paredes. Rilho dentes. Controlo-me. O Padre se despede. Tanjo-a pelos corredores e salões. No rastro dele. Pressiono-a para me acalmar. Ela conviveu com crianças. Gosta delas. Especialmente do cheiro - bom para dormir...

Voltam-se a ela como lobos. Homens e seus apetites... A plataforma muito aberta à amplidão de azuis... Chiados no silêncio quase vazio... Iodo... Sal, ardido... Ritmo na vastidão cintilante lá embaixo... O Sol alto... ... ...
Ele, num salto impossível, das ondas a nós...

Ela o admira.

Sento-me, farejando o horizonte. Aquecido.
Tua voz cantando notícias. Leões rechaçados em Cosmo Canyon. Interesses em Huge Materias. Uma nova missão. Ânimo... Me brocha saber que não devo sangrá-los até que mergulhem no Styx... Poupar tantos quanto pudermos... não é, parceiro? Fecho o olho. Um disco laranja em minha retina. O amargo em mim. O amargo da abstinência. Nos arriscamos para salvar esse povo. Creio que isso seja o contrário de exterminá-los... Entôo o Cântico, bem quieto, lá no fundo de mim mesmo.

O peso do Céu -
"Sou livre para não ser P.A.#7."

Um murmurar sobre teu irmão, a confissão de um sonho - e o teu sofrimento em cada sílaba. Perigo. Meu sonho, voltando. Encadeio planos, mas num inspirar, a conversa gira. Cartões, levá-la... O que??? Tonteio. Do que falamos? Vestidos... Eu? "Requinte" Comprar gravatas... Um sorriso diferente em ti. Ele, na evasiva, apontando ao longe. Seu vulto recortado contra o anil, duro demais, isolado. Indo...

Um sentimento rasgado em mim...

Outra vez, ela comigo.
Devo ter paciência. Não há nada que saber sobre mim. Nada que possa lhe dizer sobre Kuroi. Está se acostumando mal... Sua insubordinação me avilta. Ela contesta... Aborreço-me. Quer cooperar?... - ah, não só você!... Então resolvo: transgrido. Deixo a porta da gaiola escancarada. E mostro o caminho...

Logo, ela voa, rápida como o vento. O calor dela... me ultrapassando, dissolvendo-se no ar.
Flores brancas num véu entre ela e eu. O allegro dolce altíssimo de seus passos no metal... A trajetória dos fios ondejando... salamandras... labareda... A excitação de seus corações...

Jogo-me atrás dela. Um pouco atrás... C
açando-a, me inibo. Me... complico... O salto dela. Leve, fino, penetrante... Um florete no corpo do mar... Adrenalina. Dou tudo de mim - sem porquê. Arremeto numa explosão. Vôo livre, a folha d'água muitos metros abaixo... As roupas dela como pétalas de flor. Ou borboletas marinhas bailando ao seu redor...

Fecho os braços à frente, e rasgo a carne do Oceano com meus dedos retesados. O som fustigiante de meu peso contra o empuxo... Azul frio lambendo meu uniforme - esperto, guarda ar para nós... As pernas dela... seu movimento de serpente... O espectro do navio. Nuvem de areia...
Já não está sem ar? Ela guina, eu subo junto. A luz atingindo-nos através da água. Segundos, bolhas de ar vazando. Você consegue?... Enfim, a música das suas risadas.

E tu
? Observo-te: tu estás nos cuidando... Feixes dourados, pálidos, do teu peito. Me rendo... Arabescos de pressão e sal. Incontáveis indas e vindas das correntes inconstantes. Diante de ti, o Universo me arrebata, Drako...

Acordo.
O dois em carga arrastam o titã. Mais fundo. Mais. Ainda falta... Examino de longe: só uma testemunha de sua força. Vergonha... Eles sobem. Sei que vão tentar de novo.

Vasculho o cenário, analiso... Banshee.
No máximo. Um bom ponto de apoio. O bote pontiagudo. Minha contorção que amplifica o poder dela. A água explode... Espasma, como um enorme ser. Borbulha selvagemente. Risca-me. - Meus tímpanos!... - Cerro os dentes, cerro os dedos. Minha mortal rasgou uma grande fossa junto ao casco.

Os dois descem. Me afasto. O soco na água me empurra longe... O lamento, um rangido abafado e longo, do cargueiro. O Sol me guiando para cima.
Rápido! Arde respirar. Nuvens desenrolando-se entre meu olhar. Vejo coisas, - memórias - . Mantenha o foco no que está acontecendo... Escuto-o em mim - como se ele pudesse abrir uma porta e enfiar a cara para dentro do meu cérebro - muito claro. Furioso, ácido sob fios brancos.

Obedeço... O céu! O traje derrete de mim, me libera. Inspiro com um grito. Sede de ar. Consegui. Relaxo. Arquejo, mas vejo os dois comemorando... Conseguiram. Sorrio. Nós conseguimos.

Nós...

Drako... Eu... ... ... e... Ane Marie...

[2ª versão, editada em Agosto, 23, 2008]