Tremendo, luzindo, ou sumindo diante do meu olho...
Quanto disso são as cinzas dos que se foram?...
Decomponho movimentos em milhares de imagens congeladas. Cada frase em centenas de indicações além do significado de suas palavras. Sobre-excitação dos sentidos. Sobre-exaltação de todos os meus sentimentos. Desejar. Temer. Odiar. Os limites se dissolvendo... O sangue turbilhona em mim, jorra em minhas ordens, em meus gestos ferozes. Ter urgência. Apressá-los. Façam algo por ele... Tragam-no de volta! Façam isso por todos eles e por vocês!...
... façam isso por mim... Agora!
As paredes se fecham sobre teu corpo imóvel - um caixão! Eu arfo. O vidro isola-o de mim - eu enlouqueço. Memórias riscando as paredes de meu cérebro. Tubos como os... Os vigio... Tubos... Suas carnes caindo, desintegrando-se - não, misturo tudo... Me deixe pensar! Tu, despido, mudo. Um boneco sem vida. Tão desprotegido, tão só. Mas está a salvo...
Não posso confiar...
Não posso te deixar assim! Também não posso te deixar... - Dilema... Recordo teus favoritos. Recortes de tuas confissões, de teus gestos, a nuance dos teus olhos. Seqüestro-os para ti. E mirro esperando-te. Esperança. Acorda...
Meu mundo, tão pequeno e quebradiço. Brotos de samambaias desenrolando-se ao redor do meu peito. Mal respiro. Tudo se passa em minha mente. Cenas atropelando-se... Tua mão sobre meu ombro abrindo meu dia... Jenova e Kuroi borrando tua alma... O volante do carro e paisagens velozes, confiança, ombro no ombro... Uniformes, risadas de Ane. Cheiros, botas e gente demais naquele desfile... Tu, subindo como uma flecha, intangível, partindo e minha voz insuficiente, minhas competências, insuficientes... Huge Materia... Iffrit... Shiva... Nós temos o 21 - disseram. Os olhos de Uriel - os teus - tão perdidos...
Tão... pouco... para arriscarmos você... Tu, nos ombros dela, estirado... Volutas e arpões... A dor de não ser suficiente para te salvar...
- Que está havendo contigo?!... Me fale... Me conte... Retorço minha mente. Busco uma salvação em espirais descendentes, me afogo em minha culpa, na mentira honesta que contei ao teu garoto - Onde estás por trás desses olhos vazios?... Está tão frio aqui...
Frio... Lembras? Sim, a partida de Midgard! Escuto no silêncio, outra vez, teus lábios me contarem... Estar sob o Sol... Teus lábios me lembram... morangos... Rujo para eles. Delimito-te para mim... - para... eles... - Rapto-te. Sei que tu me pedirias isso. Sinto... O Cântico entoado por aquele que tu mais queres - só para ti. Escutas?... Teu filho te chama. Escutas? Aos raios quentes e alaranjados, te ofereço. Minhas palavras trêmulas, te ofereço. Quase, quase te toco... Coragem, eu não te abandonei, não me abandones...
Abro uma salva fogos de cores inebriantes em minha escuridão de entranhas, ao som de tua boca - tu, consciente. Tu, de novo, Drako... Bendito o Astro de Fogo que te empresta vida. Bendito o menino que te abraça. O homem por quem tu voltas... Os agradeço por resgatá-lo... Tenho com eles uma dívida imponderável...
Felicidade. Ânimo. Recolho-me em minha falha. Em meu dever contigo. Ombro no ombro. Eles te farão sorrir? Sim... Eles sentarão ao teu lado quando estiveres só e pesado? Sim... Quando tu tiveres uma dúvida, eles te dirão que acreditam em ti? Sim... Tudo parece bem, agora...
... mas não está - jamais estará!... Entende? Vejo-o: ao longe, ele ainda o tem sob seu ódio. Ao longe, a Coisa ainda o contamina. Uma trama solta, esta onde nos arriscamos. Uma rede que nos prende, ou, se escorregarmos, nos corta... Eu falhei contigo... Uma. Duas vezes! Quantas mais até te perder?!
Não permitirei... Escapo. Fios rompendo entre nós. O craquelar de uma alma fictícia em mim, posso ouvir. Uma vontade como areia em minha garganta. Um doer. Consertar, é só o que te peço... Me deixe, não se vire, não me chame... E no caminho, Uriel... um abraço dele... doce... honesto... triste... como... uma mesa, morangos e talheres luzentes... Não quero te dizer "Adeus", pequeno. Não sei como.
Separo-me de vocês... de ti... querendo tanto... voltar... Compreendo que as chances estão contra mim. Poderá me desculpar se eu perder tua última luta? Será que entende que pretendo aumentar tuas chances? E, sim, livrar-te do destino de escolher entre a vida do teu irmão ou a tua, a deles...
Peço a ti, a vocês: me perdoem pelo que não puder fazer...
[2ª versão, editada em Agosto, 28, 2008]