segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sewing seemings meaningless

O pó...

Tremendo, luzindo, ou sumindo diante do meu olho...

Quanto disso são as cinzas dos que se foram?...

Decomponho movimentos em milhares de imagens congeladas. Cada frase em centenas de indicações além do significado de suas palavras. Sobre-excitação dos sentidos.
Sobre-exaltação de todos os meus sentimentos. Desejar. Temer. Odiar. Os limites se dissolvendo... O sangue turbilhona em mim, jorra em minhas ordens, em meus gestos ferozes. Ter urgência. Apressá-los. Façam algo por ele... Tragam-no de volta! Façam isso por todos eles e por vocês!...

... façam isso por mim...
Agora!

As paredes se fecham sobre teu corpo imóvel -
um caixão! Eu arfo. O vidro isola-o de mim - eu enlouqueço. Memórias riscando as paredes de meu cérebro. Tubos como os... Os vigio... Tubos... Suas carnes caindo, desintegrando-se - não, misturo tudo... Me deixe pensar! Tu, despido, mudo. Um boneco sem vida. Tão desprotegido, tão só. Mas está a salvo...

Não posso confiar...

Não posso te deixar assim! Também não posso te deixar... - Dilema... Recordo teus favoritos. Recortes de tuas confissões, de teus gestos, a nuance dos teus olhos. Seqüestro-os para ti. E mirro esperando-te. Esperança. Acorda...

Meu mundo, tão pequeno e quebradiço.
Brotos de samambaias desenrolando-se ao redor do meu peito. Mal respiro. Tudo se passa em minha mente. Cenas atropelando-se... Tua mão sobre meu ombro abrindo meu dia... Jenova e Kuroi borrando tua alma... O volante do carro e paisagens velozes, confiança, ombro no ombro... Uniformes, risadas de Ane. Cheiros, botas e gente demais naquele desfile... Tu, subindo como uma flecha, intangível, partindo e minha voz insuficiente, minhas competências, insuficientes... Huge Materia... Iffrit... Shiva... Nós temos o 21 - disseram. Os olhos de Uriel - os teus - tão perdidos...

Tão... pouco... para arriscarmos você...
Tu, nos ombros dela, estirado... Volutas e arpões... A dor de não ser suficiente para te salvar...

- Que está havendo contigo?!
... Me fale... Me conte... Retorço minha mente. Busco uma salvação em espirais descendentes, me afogo em minha culpa, na mentira honesta que contei ao teu garoto - Onde estás por trás desses olhos vazios?... Está tão frio aqui...

Frio... Lembras? Sim, a partida de Midgard! Escuto no silêncio, outra vez, teus lábios me contarem... Estar sob o Sol... Teus lábios me lembram... morangos... Rujo para eles. Delimito-te para mim... - para... eles... - Rapto-te. Sei que tu me pedirias isso. Sinto... O Cântico entoado por aquele que tu mais queres - só para ti. Escutas?... Teu filho te chama. Escutas? Aos raios quentes e alaranjados, te ofereço. Minhas palavras trêmulas, te ofereço. Quase, quase te toco... Coragem, eu não te abandonei, não me abandones...

Abro uma salva fogos de cores inebriantes em minha escuridão de entranhas, ao som de tua boca - tu, consciente. Tu, de novo, Drako... Bendito o Astro de Fogo que te empresta vida. Bendito o menino que te abraça. O homem por quem tu voltas... Os agradeço por resgatá-lo... Tenho com eles uma dívida imponderável...

Felicidade. Ânimo. Recolho-me em minha falha. Em meu dever contigo. Ombro no ombro. Eles te farão sorrir? Sim... Eles sentarão ao teu lado quando estiveres só e pesado? Sim... Quando tu tiveres uma dúvida, eles te dirão que acreditam em ti? Sim... Tudo parece bem, agora...

... mas não está -
jamais estará!... Entende? Vejo-o: ao longe, ele ainda o tem sob seu ódio. Ao longe, a Coisa ainda o contamina. Uma trama solta, esta onde nos arriscamos. Uma rede que nos prende, ou, se escorregarmos, nos corta... Eu falhei contigo... Uma. Duas vezes! Quantas mais até te perder?!

Não permitirei... Escapo.
Fios rompendo entre nós. O craquelar de uma alma fictícia em mim, posso ouvir. Uma vontade como areia em minha garganta. Um doer. Consertar, é só o que te peço... Me deixe, não se vire, não me chame... E no caminho, Uriel... um abraço dele... doce... honesto... triste... como... uma mesa, morangos e talheres luzentes... Não quero te dizer "Adeus", pequeno. Não sei como.

Separo-me de vocês...
de ti... querendo tanto... voltar... Compreendo que as chances estão contra mim. Poderá me desculpar se eu perder tua última luta? Será que entende que pretendo aumentar tuas chances? E, sim, livrar-te do destino de escolher entre a vida do teu irmão ou a tua, a deles...

Peço a ti, a vocês: me perdoem pelo que não puder fazer...

[2ª versão, editada em Agosto, 28, 2008]

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A bit on u, much beaten by u, always a bitch for u...

Como chegar em ti?... Tuas costas e o céu estendendo-se a partir delas. O Sol se põe, e eu voltei... fracassado. Um segredo - essa mácula minha. Os graus de sombra que escorrem por nós ao chão andam em minutos e horas. Perfeito. Sem palavras - perfeito...

Então elas vêm - ruídos, ondas contorcidas em cores desacertadas, cheios de significados. Distração ao real.
"Gostou dela, não gostou?" Enrolação. Mentira até. Estorvo, enquanto sentidos e gestos são tão mais confiáveis. Detesto-as. "
Só... não faz igual... Não vale a pena... ... Se for sentir necessidade de tá perto... seja ela... ou quem for... o que for... só faz - não pensa... - o pensamento, no final, não vale o esforço... A privação não vale o esforço..." Obedeço. Teu corpo protegido pelo meu - estou aqui, entende? Bem aqui.

Tua boca, sem sorriso. Palavras - as deixo vibrar... Me odeio assim que as lanço aos teus ouvidos - Por que diabos insisto em falá-las?!!
Como pode querer me roubar algo que já está contigo?... Matizes do que sinto dissolvidas em tolices. Tropeções em palavras. Frases decapitadas. As tuas, também. "Então tudo bem quando tudo isso terminá?" Não te digo: - Meu Céu é aqui, não há outro, não haverá outro me esperando. O cheiro do teu cabelo, o pulsar dos teus dois corações, simples, limpo...

Um resto de dourado. Apagado. Inquietações. Tu continuas vendado. Se já viu em mim, preferiu cegar-se. Pó de ossos pelo céu. A matriz de todas as desgraças, brotando de mim. Galhos negros e agudos contra minha razão, rasgando do centro a leste e a oeste, de baixo a cima... Podo, podo - E tu atiras o nome dele contra mim.

Suspenso, uma inspiração. O Santo. Meu olho busca o infinito. Deixo lá meu peito, para sorrir ainda para ti. Corvos aninham-se aqui dentro, no oco. Bicadas. Asas batendo-se contra minha garganta. Nuances demais de negro doendo minha retina. Te entendo. Tu te perdes por ele, mas ele não quer te achar... Gostaria de que adivinhasses - não, que quizesses: hey, pode ser você! Eu faria. Mas te entendo.

Azul frio espiralando contra minhas costelas. Então, um calor ameno. Como pétalas de rosa. E percebo: não importa. Fale com ele.
Aproveite a deixa... Não deixe que escape o tempo que pode estar ao lado dele. Tenha pressa, amigo... Boa sorte... Tu te vais. Ausência. O amargo eu o tomo com fé em ti, e assim tem gosto de morangos... E assim alcanço um sorriso -Por ti.

Desarmado, meus pensamentos fluem, enxameiam. E o pequenino me assalta.
"Então... é aqui onde vocês gostam de ficar... Dá pra entender porquê." Me atrapalho, mas te dou equilíbrio. Medo de altura... não? Você me pergunta de mim. Você me pergunta dela. Talvez tenha outra explicação... as vezes tem... - poucas... Te escuto, filhote. "É?... De onde vieram?" Peço mudo: considere que nasci naquela Igreja, ao lado de vocês... "Não me importo de onde vieram... - Eu sei quem são... posso sentir... As vozes me dizem que... quem são... E elas me dizem a mesma coisa dela... - Que ela pode ser muito boa."

Olho ele, tão sério e jovem. Então o faço rir. Seus gestos... lembram os
dele. Falo sobre nossa missão, pois preciso checar sempre. A Shinra... Você me pede para ser sua família. Nós todos, depois... Eu minto. Como a música diz: "you can't always get what you want..." Por que ele anda triste?... O chama: pai. Tento explicar. Metades.
Ele protege todo mundo... e quem protege ele??? - Eu... Isso basta? Não. Peça ao Todo, por um milagre. Faria isso? Ele te ouviria?

Dor em teus passos. Em tua mudez. Tu retornas muito cedo. Mas estamos aqui e você faz força e ri. Gaivotas. Palavrões. Como uma família... Um beijo em tua cara. O garoto se vai. Ele te adora, sabe? - Eu não digo. Fale comigo, agora. O Padre. Pensa que vai. Não, eu não permito. Te tiro este peso - um peso que nem toda tua força pode mover.

Palavras... Palavras frias. Tuas. Meu passado, minha moral não me dão álibi - sou desprezível, tenho essa capacidade. Mas machuca que tu perguntes. Indiferença nas linhas do teu rosto.
Se tu diz, acredito, e espero que não minta pra mim. Isso me quebra. Mas te perdôo.

Ofereço a narrativa nauseante de minhas tentativas frustradas. Roxo feio, verde apagado, máculas de sépia poluído. Esse fardo não é seu. Não deve. Desentendimentos. Rabiscos entre nossas silhuetas, espinhos. Cheiro de vinagre e metal queimado. Alfinetes sob minha pele.
"Mesmo que eu quisesse, não posso ser pai dele, vou matá-lo, acabar com o futuro dele, como com o meu." Expiro contando. Repenso, ouvindo só o tom de tua voz. Então, entendo você. Quero que me entenda também, consigo?
Essa conversa cavou uma vala entre nós...

Aos poucos, o corpo fala contigo. Para que frases? Algumas ainda escapam. Constrangimento. A maioria é esmagada contra tua pele.
Meu coração as cala. Me jogo inteiro naquela vala para trazê-lo para perto outra vez. E que se foda se me arrebento. É bom. Dane-se se você tem sede de vinho, mas recebe em mim o copo dágua para continuar andando. Se tu pudesses sentir o que sinto, farias ainda pior. Que apague tudo de mim exceto o que resulta em ti. Cole o rosto dele sobre o meu, se isso te faz ainda mais luminoso e confiante. Se te dá força. A inspiração para agüentar tudo, pode vir mesmo de uma pequena coisa - que seja do que te ofereço agora...

No silêncio, borbulhas vermelhas em meu sangue. Me confesso a ti sem dizer nada. O Céu, para mim é... Linhas nos enlaçando. Branco. Suave, dourado. Um azul pulsante. Teu sopro. O hálito de nicotina e o gosto de tua saliva. A textura de teus fios. No silêncio da noite, o corte de um outro olhar.

Ruído. Interrupção. A música, aniquilada. Notas distoantes: -
"
Devia ter mais decência... ou ao menos um pouco mais de auto-estima... ... patético!... E pensar que aposto em você... Que decepção!... Parece uma puta viciada... que dá de graça..." Os cabelos de velho soprados ao negro. Escarra em mim em cada inflexão, sabe que me atinge. Desgraçado. Vejo nos olhos vermelhos dele: esgoto.

A raiva. Para cima, pela coluna, inflama meu crânio. Minha boca em dentes. Apesar disso, tu me pedes por ele. Apesar disso, eu travo. Frente a ele, que se encolhe, eu não avanço. Sua alma torce a minha. Eu poderia torcer-lhe o pescoço.
"Ele não gosta de você!... Estúpido... ... Marionete... ... Joguete..." Asfixio. Seco por dentro. Mesmo negando. O odeio mais por isso.

Tu ouviste. Tu presenciaste... Baixo... Um borrão sujo em frente aos teus olhos azuis demais. Quero me recolher, me esconder para que não precises ver mais. Talvez você acredite nele também. Ou não... Importa?... Meus pés páram. Te vejo só. Tu ficarás aí. Só.

Então... ficarei... pelo menos eu.

Meu olhar fecha pesado envolto em tua fragrância ao longe, mas perto suficiente para ver que não te abandonarei. Tuas últimas palavras, dúbias. Plumas. Espera. O marulho leva o resto...

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Trails of tales

Nada de hierarquia. Cordas soltas... O caos desse mundo civil. Afronta. Subitamente, ninguém para interrogar. Protocolos de diplomacia correndo sobre mim. Ela ganhou. Informação fácil para ela. Sequer uma resposta simples para mim. Um a zero... E frente a frente na mesa do Líder Órion. Me sinto estúpido. Ludibriado... Ele não está. Sei que está movendo as peças - resolvendo tudo... É, ainda mais estúpido...

Sigo a trilha dos movimentos dela.
Seus batimentos cardíacos. Pistas hormonais. Nenhum detalhe me escapa. - Exceto a verdade... - Sua origem. Shinra... Uriel gravita em torno dela. Uma ternura carente nos olhos dele. A vibração nova em sua voz. Um incentivo para minha vigília - ele é a presa perfeita.

Ele chega. Saio da vitrine do museu. Um time, outra vez. Troca palavras com ela, atira-as. Sinto no olhar dele, na contração de um ou outro músculo, que ele a está conduzindo, fazendo-a encarar-se, descer do muro. Analiso até mesmo suas pausas... De arma e ameaça, de mulher e tentação, em inocência e doçura. Basta uma moeda. Some e reaparece. Os olhos verdes abrindo-se como os dos pequeninos. A boca, carnuda, num "o". Promessas e lugares mágicos. Ela brilha. Ane está mesmo maravilhada...

Curiosidade. Matizes entrelaçadas e enervantes entre ela e eu. Destrave esses segredos para mim... Onde viveu? Com quem? Como foi sua infância, seu passado, cada um de seus dias até a
Corporação trazê-la a nós?... No que acredita?... Aliada ou inimiga de uma só vez, sem estorvar-me mais...

Flores brancas, miúdas. O ângulo de seu rosto. Delicado. O jeito atrapalhado de comer. Absurdo. A risada que me dói e destoa dela - mas é tão dela...

Quem é você, Ane Marie?

A que veio?

Ele livra-se rápido do prato. Inquieto. Incomum. Entrega-me ela. Não quer que eu faça mais nada a não ser pajeá-la?!... Sei que é importante!... Não é isto... Estar alerta para que não haja sangue. Estar atento para captar qualquer informação... Mesmo assim... assim que ela põe a última garfada na boca já estou me levantando. Quero aquela conversa contigo, e... ... ... Esse não é meu único motivo... Não digo mais que isso.

Ela tropeça, resmunga. Suas roupas. Pego-a com o canto do olho. O grosso das pernas. É... chega a doer. O branco leite. Máculas rosadas. A saia, presa nos cantos da roupa de baixo, clara, macia. O drapeado em arcos concêntricos balançando entre suas coxas. Corro meu olhar pelas paredes. Rilho dentes. Controlo-me. O Padre se despede. Tanjo-a pelos corredores e salões. No rastro dele. Pressiono-a para me acalmar. Ela conviveu com crianças. Gosta delas. Especialmente do cheiro - bom para dormir...

Voltam-se a ela como lobos. Homens e seus apetites... A plataforma muito aberta à amplidão de azuis... Chiados no silêncio quase vazio... Iodo... Sal, ardido... Ritmo na vastidão cintilante lá embaixo... O Sol alto... ... ...
Ele, num salto impossível, das ondas a nós...

Ela o admira.

Sento-me, farejando o horizonte. Aquecido.
Tua voz cantando notícias. Leões rechaçados em Cosmo Canyon. Interesses em Huge Materias. Uma nova missão. Ânimo... Me brocha saber que não devo sangrá-los até que mergulhem no Styx... Poupar tantos quanto pudermos... não é, parceiro? Fecho o olho. Um disco laranja em minha retina. O amargo em mim. O amargo da abstinência. Nos arriscamos para salvar esse povo. Creio que isso seja o contrário de exterminá-los... Entôo o Cântico, bem quieto, lá no fundo de mim mesmo.

O peso do Céu -
"Sou livre para não ser P.A.#7."

Um murmurar sobre teu irmão, a confissão de um sonho - e o teu sofrimento em cada sílaba. Perigo. Meu sonho, voltando. Encadeio planos, mas num inspirar, a conversa gira. Cartões, levá-la... O que??? Tonteio. Do que falamos? Vestidos... Eu? "Requinte" Comprar gravatas... Um sorriso diferente em ti. Ele, na evasiva, apontando ao longe. Seu vulto recortado contra o anil, duro demais, isolado. Indo...

Um sentimento rasgado em mim...

Outra vez, ela comigo.
Devo ter paciência. Não há nada que saber sobre mim. Nada que possa lhe dizer sobre Kuroi. Está se acostumando mal... Sua insubordinação me avilta. Ela contesta... Aborreço-me. Quer cooperar?... - ah, não só você!... Então resolvo: transgrido. Deixo a porta da gaiola escancarada. E mostro o caminho...

Logo, ela voa, rápida como o vento. O calor dela... me ultrapassando, dissolvendo-se no ar.
Flores brancas num véu entre ela e eu. O allegro dolce altíssimo de seus passos no metal... A trajetória dos fios ondejando... salamandras... labareda... A excitação de seus corações...

Jogo-me atrás dela. Um pouco atrás... C
açando-a, me inibo. Me... complico... O salto dela. Leve, fino, penetrante... Um florete no corpo do mar... Adrenalina. Dou tudo de mim - sem porquê. Arremeto numa explosão. Vôo livre, a folha d'água muitos metros abaixo... As roupas dela como pétalas de flor. Ou borboletas marinhas bailando ao seu redor...

Fecho os braços à frente, e rasgo a carne do Oceano com meus dedos retesados. O som fustigiante de meu peso contra o empuxo... Azul frio lambendo meu uniforme - esperto, guarda ar para nós... As pernas dela... seu movimento de serpente... O espectro do navio. Nuvem de areia...
Já não está sem ar? Ela guina, eu subo junto. A luz atingindo-nos através da água. Segundos, bolhas de ar vazando. Você consegue?... Enfim, a música das suas risadas.

E tu
? Observo-te: tu estás nos cuidando... Feixes dourados, pálidos, do teu peito. Me rendo... Arabescos de pressão e sal. Incontáveis indas e vindas das correntes inconstantes. Diante de ti, o Universo me arrebata, Drako...

Acordo.
O dois em carga arrastam o titã. Mais fundo. Mais. Ainda falta... Examino de longe: só uma testemunha de sua força. Vergonha... Eles sobem. Sei que vão tentar de novo.

Vasculho o cenário, analiso... Banshee.
No máximo. Um bom ponto de apoio. O bote pontiagudo. Minha contorção que amplifica o poder dela. A água explode... Espasma, como um enorme ser. Borbulha selvagemente. Risca-me. - Meus tímpanos!... - Cerro os dentes, cerro os dedos. Minha mortal rasgou uma grande fossa junto ao casco.

Os dois descem. Me afasto. O soco na água me empurra longe... O lamento, um rangido abafado e longo, do cargueiro. O Sol me guiando para cima.
Rápido! Arde respirar. Nuvens desenrolando-se entre meu olhar. Vejo coisas, - memórias - . Mantenha o foco no que está acontecendo... Escuto-o em mim - como se ele pudesse abrir uma porta e enfiar a cara para dentro do meu cérebro - muito claro. Furioso, ácido sob fios brancos.

Obedeço... O céu! O traje derrete de mim, me libera. Inspiro com um grito. Sede de ar. Consegui. Relaxo. Arquejo, mas vejo os dois comemorando... Conseguiram. Sorrio. Nós conseguimos.

Nós...

Drako... Eu... ... ... e... Ane Marie...

[2ª versão, editada em Agosto, 23, 2008]

sábado, 2 de agosto de 2008

Flowing frown flowers



Cheiro de mar. Faíscas do Sol refletindo das ondas ao meu olho. Tanta luz... Ele, à frente. Coroado de dourado pelos raios ofuscantes. Ele, como num sonho...

O sonho
...

Então, ele, entrando naquela nuvem de sangue - eu a farejei desde o portão do Forte, e isso é mau, acredite: uma dezena de corpos em frangalhos. Por baixo. Um daqueles espetáculos... Ele, à frente, sem diminuir o ritmo. Apressei-me. O Universo ferido em possível contra-ataque. Sem idéia do que encontraríamos, mas ele, simplesmente, enfiou os pés. Desespero. Passo sobre todos os protocolos de Infiltração.

(Estou rindo - preciso registrar aqui: tornei-me um suicida!)


Em rasante, nós dois, para dentro. O fedor... Meus tendões todos exigindo-me. Vermelho. Exigindo-me. Vermelho. Assovios de ordens. Meus músculos pedindo, suplicando. Solte-nos e faremos o que sabemos fazer de melhor!... Vermelho, cortante, martelando minha cabeça, de novo e de novo. "SANGUE SANGUE SANGUE"

Agarrei-me a vocês. O abraço morno do menino. Os olhos dele no meu. A mão do Padre erguida em benção... Enforquei minha vontade, puxei-a de volta ao meu objetivo ali: protegê-lo, investigar, achar sobreviventes, impedir que algum perigo saísse da embarcação. Porque lá fora está o tesouro dele. Então aquele inferno não vazaria dali...

Impaciência.

Ruídos metálicos da carcaça do cargueiro. Marulhos. Vozes lá fora, distantes. Dois corações, à frente, e seus passos marcados estalando o piso. Um silêncio rasgado por um roçar suave. Depois, um gemido baixo, abafado. Sem aguardar confirmação ele lança-se para lá.

(Não, ele não tem nenhum senso de auto-preservação...
Não, não admito que você zombe dele por isso...)

As formas dela surgem da lona. Como as estátuas do prédio da Corporação. Branca marfim. O cobre deslizando pelos fios de seus cabelos. Corro o olhar por ela. O máximo na mínima fração de segundo.

Percebo. Gazes
sujas amarrando seus seios. Sem armas. Sem equipamentos. O sangue deles. O fedor dos mortos. E nada explicando como ela conseguira...

Compreendo. Ela é
muito mais perigosa.

Um gosto de chumbo... A mato se... Ela treme nos braços dele, ele a analiza. Questiono-o, sou óbvio, quando ele a entrega a mim. Mas eu já sabia o que ele iria decidir... Ele é assim. Peso suas palavras... Aceito... por agora.

Quem é ela?... Com certeza não uma donzela em perigo...

Levo-a ao soco do ar fresco, frio e súbito. Maresia... Atenção em cada variação de sua pressão sangüínea. Cada curta contração muscular. Na cadência de seus pulmões. E muito depois percebo que estava relaxando, acreditando, embalado por aquele ritmo que tentei ignorar em vão:
duas batidas. Duas... Dois corações pulsando nela... como nele...

Meus muros, outra vez. Gostaria de poder arremessá-la para o outro lado daquele Oceano. Ao invés disto, recubro-a com meus braços, ocultando sua nudez devastadora com a decência de minha silhueta, emprestando ao seu corpo gelado e desprotegido um pouco de calor. Protegendo-a...

Tarde para rebelar-me: minha guarda estava tão aberta... Ela me golpeia: reclama de dor. Olhei-a fundo. Quis saber que ferida era aquela. Ela afunda-se, rui ali, junto de mim. Não sou bom com pessoas. Fiz o que pude. Reparto com ela uma das poucas doses de VioletLicor O - irá sedá-la até que a cura venha. Suspeita de mim, eu notei. Previsível...

Invento algo para tirar os humanos da área quando nos acodem. Não tenho certeza de nada. Mas ela sobrevivera ao que os outros não. Ela é diferente deles. Será a causa daquilo?... Não ter sido hostil contra nós não é álibi. Não posso feri-la ou perturbá-la. Drako a pegara em seus braços. Não posso usar nela meus métodos.

Ele volta, espero dele um esclarecimento... Somente mais perguntas... E após cada uma: nada. Só amnésia. Linhas negras entre eles no som de suas palavras. Ele está pesado de fracasso. Sua frustração transborda de sua língua, de seus olhos gelados. O sonho, nítido demais: "não podemos salvar a todos". Isso doía nele, isso o revoltava - até mesmo contra ela. Mas só por um instante e ele perdoaria. Ele está empenhado em algo muito mais importante que julgamentos. Ele é assim. Traços de azul e dourado...

Ane Marie... ela tem um nome humano... Ele fala o que eu mesmo havia pensado, selando nossa decisão: ela fica conosco, e se mexer com essa gente... É o mais certo... Uma vez isso posto às claras, se vai.

Eu a sós com a esfinge, de novo.
Ela veste-se, os gestos convulsionam minha pulsação. Todos seus perfumes secretos abrindo-se num buquê. Pequenas flores brancas entremeadas em corpos abertos... Seguro-me. Meu coração recua para seu batimento monótono, quase morto... Ela tem que falar... E agora o Santo aparece... Isso complicaria tudo - e ele não podia ficar ao alcance dela. Satisfaz-me quando ela recusa sua oferta de ajuda - o expulso sem demora.

Mais afiado, inicio nossa conversinha - quero destrinchá-la até ser saciado...

[2ª versão, editada em Agosto, 23, 2008]