segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Titanium powder on tip of fingers... [dried soul]

A minha preferida é o NeoOpium... Supre minhas necessidades e o cool down eu consigo administrar numa boa, sem me arrumar mais encrencas... Espere! De forma alguma incitaria alguém - muito menos você - a fazer uso dele nem de qualquer outra opção na vasta gama de substâncias ilícitas disponíveis... Não tome isso como propaganda ou apologia, eu te odiaria por isso...

Eu falava de mim. Dependo disso. Só sob seu efeito suporto o iniciar de um novo dia. Outro dia como todos os demais há quase sete anos... Acordo. Dormi mal, meu corpo tem novos hematomas. O chuveiro ultrassônico e os jatos ionizados secam o suor de minha pele e zeram esse cheiro escroto que me lembra essa cidade asquerosa. Como preparação aqueço uma lata de bam-chá e mascaro meu rosto com branco titânio, negro, vermelho, dourado... a piteira se acende... serpenteia ao meu redor a névoa purpúrea do Neo... Doçura... sinto-o subir da ponta de cada dedo e invadir minha ráquis... meus movimentos ficam... suaves... o tempo se distende... ah... ele explode dentro de cada neurônio... o limite do real esfumaça... as coisas vibram... ganham vida... alma... som... Eu vejo sonhos flutuando ao meu redor... A companhia não mais importa... tudo torna-se subitamente engraçado... e todos os toques são prazer... todos... sempre...

Um escape ao paraíso surreal que dura quase exatas 4 horas... Minha sorte é que meu cafetão me adora, ele concordou em agendar clientes e trabalhos para o pico, e deixar essa brecha... A brecha de uma hora para eu me recuperar do cool down, do fim da fissura... Uma hora no inferno... Primeiro a dor: as cores machucam, o som... O equilíbrio se perde, a náusea e tontura são tão intensas que se não estou dormindo, ou atado, eu caio pelas paredes, sobre as coisas - e não quero quebrar nada, nem em mim, nem no meu quarto - por isso, normalmente, me amarro à cama com as presilhas... A tempestade assenta... O mundo se esvazia. Tudo se torna idiota, supérfluo, insignificante... as cores parecem cinzentas... os aromas se apagam... minha alma seca... Nesse instante as memórias voltam... Mas não há sentimentos... É como não amar nada, não odiar nada, nem sequer sentir que essa merda toda realmente está acontecendo. Como perceber que você não existe.

Geralmente nesta pausa é que faço meu desjejum... Creio que possa imaginar que sem fome ou tesão por comer, a minha refeição seja breve e mínima... Por vezes, nada. O chá, outra vez. A câmera projeta minha imagem odiada, meus dedos na tinta, a tinta cobrindo meu rosto, a piteira pendurada na boca... O Neo, bendito seja...

Se eu não tiver sido escolhido para algum espetáculo ou como acompanhante, após dez horas de gemidos sou solto. Espero a crise passar. Me troco. Saio. Sou só um borrão nas ruas sujas. Me perco na corrente impetuosa de animais humanos, animais quase-humanos, animais quase-máquinas. Sou dissolvido no burburinho, no fulgor das telas, na perda dos sentidos... até mesmo do sentido de viver, de ser alguém...

Aqui fora, sou uma sombra sem nome...

... Muito prazer...