sexta-feira, 25 de abril de 2008

War hounds are bound to...

Fôra um dia daqueles... de cão... Minha vida estacionara novamente naquele velho capítulo escarlate...

Cães de guerra, outra vez. Abríamos caminho ao comboio que contém - em poucas palavras - tudo que importa.
Eu precisava estar no auge do impossível para defendê-los. Nenhuma criança abatida. Eu não permitiria que tocassem nelas. A droga produziu aquele efeito deliciosamente psicótico em mim. Um mundo sobreposto por arabescos. Cintilâncias... Cheiros tão vivos que tinha de engoli-los com litros de saliva. Um mundo simples, aberto ao meu talho, sem meandros, reticências, interpretações... Um mundo sem questões. Ação e reação.

Enfim eram tantos por cima de mim que me senti implodir e esgarçar por dentro, estirado pelo impacto de tantos corações pulsando, tripas em convulsão, tantos gritos, arfares, suores, couros... pólvora - carne viva, queimando, sangue de tantos cheiros... Dos meus genes fosforescentes ela irrompe e minha pouca humanidade cede sem resistência, desfia-se como meias de náilon... Eu... Monstro sem nome... Mastim que estraçalha os inimigos de seu amo...
Falanges jogadas ao ar - hipérboles. O convexo de um olho tornando-se côncavo. Uma pirueta de um decepado.

Fujam de mim, ou caiam!!! - eu rujo, rosno, uivo. Acima de mim, o raio alongando-se, tentando tocar a fortaleza às minhas costas. Inalcançável. Bestificado, minha mente repetia 'não pode... fulminá-los... não podemos deixar...' Então o feixe falhou, piscou, irregular, vencido. Pensei em ti. Só você faria aquilo.

Não te vi cair. Nem cogitei isso... Tenho aceito bem demais a tua invencibilidade.
O garoto me acudiu quando tudo tornou-se restos. Nos pequenos gestos e olhares, ele é teu filho. Evoca-te. Me confunde. Vale-se disso para pedir-me: 'procura-o'. As lágrimas todas imploravam - desnecessário: eu iria. Sabe que sim. Aos gemidos fabulou a sorte que te coubera - a tua morte, que eu ignorava. Corri. Sobre mortos e aleijados, vencendo o espaço e o tempo como se pudesse rebobinar tudo e evitar o que te feriu. Atolei na areia macia demais, clara demais. Sal nas minhas narinas. Dor nos meus pulmões. Pensamentos ocos.

O imenso mar e algo muito sutil de ti. Deixei-o ali e segui louco para dentro do escuro silencioso. Penetrei o fio do frio daquelas águas. Por ti. Cada pequena faísca de nossos poucos dias, bailando e descendo ao meu redor. Cada momento brilhando naquela escuridão, partículas em minha mente enquanto forçava meu caminho. Douradas, como teus cabelos. Impactantes, como tuas palavras cruas. Capazes de me dar perseverança, como tua pregação... Relembrei até as coisas tolas, os risos que roubaste, o esdrúxulo do teu drible contra as crianças... O motor de sua moto sob nosso peso - voávamos sobre a rua, sobre a vida.
E lá no fundo, emoldurado por todo meu delírio desesperado, te enxerguei.

Tu não ousarias morrer! Eu não aceitaria. Tua carne e tua essência aos pedaços, contra meu peito. Tubos de proteínas, os olhos deles me encarando... Não, com você eu não permitiria.
Enquanto o Sol declinava, teu corpo gelado e incompleto repousou, devorado pelas esperanças teimosas do fedelho e deste assassino. Então, aquele que tu venera veio em teu socorro. Invejei-o. Registrei a corrente fluir, viscosa e etérea, para dentro da tua carcaça. Só ele poderia. Eu, reduzido a mera testemunha. Meu medo como uma flecha numa corda tensionada. Segurando, ainda não, ainda não... Lembro de fechar o olho e pedir por ti. Rasuras sépia flutuando sobre pensamentos que tentam seguir adiante.

Naquele ninho sob o olho do Sol que tanto amas, o milagre da tua volta...

Preciso de ti: este é um ponto fraco, que não deveria ter. Me atrapalho. Dou vexame frente aos teus olhos frios. Me revolta. E a emoção brota mais forte que todo o senso, mais alta que minha voz. Te sinto, e só assim confirmo que está aqui. Pele a pele.

Nós lutamos entre sorrisos... Disputamos quem deve proteger. Quem deve ser protegido. Está tudo bem. Entende? Que se rompam em nós estes casulos inoxidáveis onde nos trancamos. Estanques. Intocáveis. Somos soldados. Somos consumíveis pela lei da Espada. Hey, antes que isso nos apague, posso te convidar para apreciar a vista? Posso te contar o que ando aprendendo? Ou talvez, o que ando sentindo? Será que não vê nos olhos deles o quanto te querem perto?

Aqui em meu peito há uma perda se formando, maior que todas as que já tive. Olho prá ti, tu te vais. De novo, à frente, sei que estarás nos guardiando. Não faz sentido, eu sei, ter laços. Mas coisas inusitadas e sem lógica certa é que destrancaram a vida, para mim, há tão pouco tempo...

Olho o lençol desocupado e os meus braços nus. Uma flor que morrerá no mesmo dia que nasceu não deveria abrir-se no seu melhor perfume?...

sábado, 19 de abril de 2008

'Bout monkey's desire: tastes like honey, tastes like fire

Há um Deus e ele perdoa...

De cabeça baixa eu aceito esta verdade, pois meu peito ainda tropeça. Não tenho certeza de merecer tanto antes de cair por eles. Sim, eu sei que este é meu final. Ou não...

Não sei como escrever sobre isso e tenho de me perdoar por adiar a confirmação do que fiz por mais uma frase. Já tenho testemunhas demais. São mais três respirações neste quarto, subindo e descendo. Sobre mim, não só os de meu parceiro de deslize. Olhos vermelhos, mas frios - sete, ele me chama, - sete, ele me lembra sempre... Olhos amendoados de menino, incrédulos na madrugada... Aqui, só o meu peso. Aqui, só o sinalizar constante - cheiro de metal recém-forjado e limpeza mórbida, luzes de alerta - minha memória tagarelando: você esqueceu seu posto, soldado.

Quando entrei neste quarto, eu ria. Desde o começo, te conto: o Santo e ele, frente a frente. Ele tinha palavras tortas para escapar ao padre. É o que ele sente, mas mais é o que ele sabe ser o dever. Fiquei ali, observando-os. Às costas eretas, secas. Escutando seus dois corações. Cada palavra engolida. Esperei, como se o apoiasse numa batalha. Sim. "Não é orgulho... só as coisas têm que sê assim..." foi o que disse como se fôsse: boa-noite, fique bem e não se preocupe comigo. Eu recebi a benção por todos vocês. E disse Amén.

Eu ri. Ri... Porque é tão patético, de tantas formas... Porque Cold, mesmo tão sábio, nada entende sobre você... Porque tudo parece tão bobo, mas é tão fundo... Porque eu desejo que você alcance a felicidade, mas ela te leva na direção dele... e tanto mais... Nossas vidas, tão miseráveis, tão tênues, tão desperdiçadas... É tudo tão maior... Há uma beleza tão asfixiante e intangível... E aquele rosto de criança entretido com bolhas de sabão...

Sete...

"Se você não der meia volta..."

Sou quem sou. Mas queria saber como é ser além. Não. Não quero dar um passo a trás que seja do meu objetivo. Jamais reneguei para o que eu nasci. Não é isso. A minha segunda pele no criado-mudo - "deixar você de lado... hoje de noite" - eu tão estranho sem proteção. Faz de conta que sou mais um entre a multidão. Deitar minha cabeça neste travesseiro e sonhar. E o que eu sonharia, se pudesse?...

Foi aquela tua aproximação que despertou em mim o erro da pretensão. Mais uma vez - outra vez - tu passaste da linha segura: perto demais, perto demais... Nas marés do meu sangue, te vi distanciar-se e transformar-se. Você perdendo-se de você. Surdo. Dissincrônico.

Mas tu deixaste uma brecha para mim, entende? Tu cultivaste o demônio da confiança em meu peito oco. E eu o segui. Eu ousei - pela primeira vez, com todas as minhas entranhas, desarmar-me até os ossos e dar vazão às ordens do meu peito. Mesmo mesquinho. Vaidoso. Ou louco.

Aquele instante - não mais que um fugaz suspiro, o lapso de recarregar minha pistola - impresso irremediavelmente em mim. O calor do paraíso ao te enlaçar. Perfeição. Teu cobertor, tua armadura, teu anjo-da-guarda, teu parceiro... aquele que te estima. Tua mão cairia sobre mim e desmontaria meus ossos, e eu nada faria além de sentir aquilo me dissolver por dentro.

Nada faria... Me afastei. Pensei que te respeitava, assim. Enganei-me. Curioso lutar contra si mesmo por ti e depois descobrir que lutava também contra ti... "Tá fugindo de mim? Eu... te incomodo?" "É ruim ficá perto de mim?" Frases me alvejando em cheio. Pulsação entre nós. Três. A minha esmagada contra o ritmo das tuas batidas.

Mármore. E água. Todas as minhas couraças, derrubou-as uma a uma à minha frente. Teu hálito de Sol cantava a ode dos teus dias - só pra mim... A cada palavra tua carne se abria mais em feridas. E eu, algemado na minha impotência, saboreei tua alma brilhante e solitária, trágica e orgulhosa, em cada nota do timbre da tua voz.

Eu confesso aqui: a degustei em cada detalhe terrível, em pecado mortal. E mais... Na minha perdição, eu deixava escapar palavras antes secretas - só para ti... Traços de revelações pairando entre nós, entre cada respiração, em azul gelo, vermelho sangue, amarelo luminoso ou cinza... como eu. A curva do teu queixo. Dobras em tua camisa. O gesto da tua mão. Teu perfil forte e uma estranha poesia. Farfalhar de uma mecha loira sobre teu rosto. Teus olhos. A cor das tuas sardas.

Tão perto.

Tão desprotegido: todo teu mundo sem cercas para que eu invadisse. Para que eu depusesse minhas armas e repousasse na tua relva macia... Ombro no ombro - você disse. Eu disse. Nunca acima. Jamais abaixo. Talvez longe, porém ao alcance. Tudo é você - eu disse, turvo, olhando-te através de uma miragem. Ou quis te dizer... Você - você me respondeu. "Você" Isso é tanto... Isso é muito - demais - e eu não ambicionei isso, não estou preparado para isso.

Entende? Talvez não saiba lidar com toda essa proximidade. Mãos ensinadas a matar e arrancar dor podem ser para você? Abaixo das camadas de mortos encrustrados em minha pele, ainda há algo do que precisas? Meu raciocíonio se move em círculos fatais e eu o travo, eu tento não sucumbir ao empuxo das regras da minha vida. Então, a pressão do teu corpo, enguiçando o mecanismo. Riscas fervilhantes em minha mente paralisada. Eu deixo. Que se dane tudo que fui. O tempo respira. Súbito, o cetim dos teus lábios. Meu mundo de ponta-cabeça. Perdi o comando. E perder a vida em tuas mãos agora, não me parece nada mal.

Tenho todas as instruções erradas, preciso que saibas.

A tela de cristal mostra um pedaço de minha sombra em reflexo sobre estas letras em luz. Queria poder guardar nelas o que sinto ainda agora. Que mesmo com sangue em minha boca, mesmo faltando pouco para a escuridão, eu pudesse ter certeza de reaver isso. Não consigo. Forço todo meu ser nelas, mas é impossível, não cabe nelas... Não cabe nessa sintaxe... O torpor... A clara intenção de me entregar, como um suicida inebriado caindo num fosso sem fundo e experimentando voar...

O mundo inteiro girava sob nós... e simplesmente tudo estava como tinha que estar... você... eu... éramos tudo...

Eu sorrio, no escuro. O gosto da tua boca não sai mais da minha.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Words to light my darkness, a World to fight my blindness

Estranho... Acordar preso naquele terror. Olhos ainda velados pelo pano do pesadelo. E o que sinto antes de ver que não estou mais lá?...

Tua mão.

Tua voz.

Você, mergulhando em meus sentidos rendidos. Você, me resgatando. Tua presença indicando que voltei ao lar. Minha exaltação cedendo a tua calmaria, a tua lealdade.

Eu não agarrei teu pulso - como teria feito com qualquer outro. Meus músculos não se tensionaram para o bote. Não fechei a guarda. Comcluo, meu caro, que meu corpo - ainda mais que minha mente - foi logrado a confiar em ti... cegamente.

Chocado, recebi novo impacto pela tua boca. Uma confissão - um irmão. Um irmão que volta dos mortos. E que nos salva. Que nos aguarda - assim segue tua fábula - no próximo ponto. Teus olhos, tua voz, teu coração e teu cheiro me dizem: " - Esperei tanto! estou feliz! estou ansioso!" Eu te cuido e me encho de dúvidas - mas não falo. Seria simples te dizer: " - Hey, tenha cautela!". Te precaver. Por que não o faço?... Me sensibilizo com o que sinto que me pedes: " - Não me frustre agora, estou feliz!" Eu calo. Eu vigiarei por ti...

Porém, talvez isso não seja o suficiente. Você me deixa. Deveria ter dito algo em ressonância a tua esperança?

O que sonhei - e não lembro se foi tudo aquilo ou se esqueci de algo - volta em pedaços dilacerados. Examino tudo. Depois, respiro através do que você me causou. O consolo. As palavras sobre Kuroi. Reflito. Escrevo isso. Mas, largo tudo quando percebo que olho a porta a cada nova frase. Você harpoou meu peito, e cada passo que dá para longe, esgarça mais e mais a corda que nos une e me fere de forma mais dolorosa.

Olhei-me. Parecia o mesmo - mas era só engano. Peguei-me em teu rastro. Afinal, haviam muitos a proteger. Havia você lá fora - e eu deveria estar a sua disposição. Sim, era isso. Não vou falhar contigo. E não falharemos com eles.

É o que importa - é simples e objetivo. Traz-me certa segurança e estabilidade - a explicação me cai bem. Escapo. Roço na multidão sobre-excitada. Capto-os um por um. Um fragmento de paquera de Uriel sobre Juanita. A marra de Weasel, Ferret e Wolffy disputando recordes. O cheiro masculinizado de Phill que se suja de graxa. Uma briga entre Ramza e Aleph. A respiração pausada e suave do Santo - deve estar cochilando nos degraus. A dupla batida do teu coração...

... inigualável... impossível de ser confundida... ou ignorada... Cruzei os olhos por ti. Egoísta e estúpido, roubei tua atenção para mim. Sem premeditar. Sem me perdoar por isso. Não consegui - no entanto - rejeitar tua companhia, nem teu convite, nem a tua sugestão para que eu me expusesse, ou a brincadeira. Não contive meu riso. E mesmo sem ter confirmação alguma, insisto por teimosia, apostaria, que isso que senti - outra vez - é "felicidade".

Sei que não há como provar. Sei que não há um cânone com sintomas que diagnostiquem: "isso é inquestionavelmente felicidade, meu chapa!" Sentimos todos a mesma coisa sob aqueles nomes: tristeza, ódio, tranqüilidade, libido? Quem garante que não falemos de coisas distintas sentido o mesmo, ou que nos enganemos por usar um mesmo nome com uma enorme diferença de sentimentos?...

O primeiro estouro me pega de surpresa e é inevitável: um formigamento desce pela minha coluna e retine num fino zumbido contra meus tímpanos. Imagens explodem. Eu vivo de novo aquelas primeiras semanas de treinamento em campo. Estou ali sendo humilhado pelos CANNIBALS mais experientes. Testado. Mutilado. Levado ao limite. Um alarme em mim dispara: Vá vá vá! Um impulso quase indomável de correr, invadir campo inimigo, conquistar, silenciar alvos, vencer. A pólvora me lembra eles. O estrondo que me põe surdo me lembra eles. Aquele flash me lembra eles.

E, como se tudo voltasse ao começo, como a Serpente Uroborus, é você que me conduz de volta. Eu vejo as pessoas sorrirem, vejo aquilo despertar algo nelas. Elas aplaudem, apontam, sussurram, exclamam. Me sinto como uma mola pressionada e tenho medo de - ZAPT - soltar-me de meu controle e dar-lhes outro tipo de show. Tenho vergonha e medo de fazê-lo em frente a você.

Mas você não me deixa. Você fala de coisas que me apatetam. Coisas que enfeitiçam minha mente, me entretem.
Você vê tudo naquelas luzes. Lá está tudo que quer cuidar. De repente, noto que estamos a sós e você continuando pregando. Pregando... E tua comoção está me comovendo. Estou entrando na tua euforia. Em teu ritmo. Tua silhueta de pé contra o negro. Teu rosto tão irreconhecível, como messias. Como o Crucificado. Arrebata-me. E assim hipnotizado, não desvio o olhar da explosão que te recobre. O colorido infernal dos fogos te emoldura numa refulgência às tuas poesias. Imprime tua fotografia em auto-contraste esmagando minha única retina e apaga tudo o mais. O Mundo cessa de existir. Mas a tua presença o traz para dentro de mim como nunca senti.

Nada vejo e nada escuto, além de você repetindo-se.

Você.

Só.

Você.

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