terça-feira, 23 de setembro de 2008

Indigo blood & underlies skin - you, as my kin, as we could...

Estas frases são para você,
Ace.


Começamos mal. Quero corrigir isso - preciso que me dê outra chance. Antes que desista de ler, pense: "Posso descobrir os podres deste monte de estrume". Refaça comigo nossa história - e pense que eu mereço o descrédito, mas que o amanhã pode ser diferente.

O início, eu lembro, claro como corte de navalha: chovia muito, amanhecia. Voltava de minha ronda rodeado pelo silêncio, sondando, sondando o nada, paranóico - dormia e comia há quase um mês sob o teto do Santo e ainda esperava a invasão da Shinra àquele santuário. Senti teu cheiro ao alcançar os degraus - na maçaneta. Adrenalina e programação, coisas que você desconhece - e que permaneça assim.

Invadi por uma clarabóia no teto da ala oeste. Passei pelos mesmos vultos e sons. Saquei Banshee, o chão não gemia. Te encontrei aos pés do altar-mor, enrolado num cobertor escuro, ressonando - as costas contra a parede.

Tenho certeza que lembra... Uma faca na jugular e um sujeito estranho sussurrando perguntas em tom de ameaça é algo que fica na memória... Entenda, agora: o confundi com um de nós. Foi o cheiro - como uma assinatura inconfundível: a carne dos CANNIBALS. Não fui lógico, não fui racional - nunca fui bom nisso - devia ter percebido que tu não poderias estar ali para me interceptar: novo demais, relaxado demais, desprecavido.

O Padre me deteve aquela manhã - você me perdoaria, porque eu teria acabado com você? - ele te salvou. Por um triz... Foi a firmeza dele, seus argumentos claros, o tom calmo, que me desarmou.

Desde então você virou uma charada para mim. Uma coisa obscura, que ia e vinha em meus pensamentos, quando eu estava desocupado. Admito: havia algo, rastejando, sob camadas e camadas de negações, lá embaixo, em meu peito. Uma desconfiança... Era a cor da tua pele à luz das chamas - que quase igualava-se a pele dela na luz pálida do alvorescer, mais ambarina - ou a forma dos teus olhos e o jeito de me espiar por eles - quase aquele mesmo medo furioso que via nos olhos dela. Eu bloqueava tudo. "Impossível..." Roía meus dentes e farejava o cheiro meu e dela em ti, teimando - "Loucura, estou delirando..."

Saiba que nunca acreditei ser seu pai. Pelo que sei, devia ser estéril... E não fui alertado de sua concepção. Não tenho instinto paternal. Esse novo papel é um desafio rumo ao desconhecido e ao improvável. Não tive qualquer treinamento.

Cubri minha ignorância acompanhando a rotina das poucas famílias que cruzaram por mim - Drako e Uriel são minhas referências favoritas. Mas também aprendi com o garoto de saias que cuida de tantos pirralhos. E observei alguns em Condor Fort e antes, nos Slumps...

Hah... Imagino... Deve ser difícil agüentar ler isto... Ok. Não estou querendo simplificar nada com palavras. Nem buscar justificativas para te coagir a me desculpar. Não. Isso é minha forma de compartilhar. Minha forma de retribuir as informações sobre você e sua mãe com as quais me presenteou, mesmo que acreditasse estar me golpeando, mesmo aos gritos e empurrões.

Acredite. Quando relembro, gostaria de refazer tanta coisa. Acredite que é uma honra que não mereço: ter a você como filho. E me assusta o fato de que você deixou a segurança da sua família para juntar-se a mim - foi tolice...

Linhas que falam por atos - não é meu estilo. Desta vez, é o que posso oferecer, minha missão me leva para longe de ti. Rude, mas verdadeiro: não estou fugindo deste compromisso. Estou assumindo algo maior - quero abrir para ti um novo futuro. Talvez seja arrogância...

Confia em mim. Faço isso para te proteger. O que tenho de fazer deve ajudar Drako e os que estão com ele a salvar nosso Planeta. Não posso parar, não posso esperar. Um dia, quem sabe?

Sobre tua mãe e eu. Ela me foi dada. Naquele dia, ela era mais criança que você. Pequena, magra, abafada pelo peso dos tecidos luxuosos e hipnóticos com que a embrulharam para mim. Eu cheguei, coberto ainda de sangue, ofegando ainda da ação. Ela estava lá. Mais um móvel em meus aposentos... Bastou-me saber: é minha, meu prêmio por ter superado as previsões planificadas. Cruel - mas de praxe em nossa divisão: todos os colegas mais velhos tinham escravas. Não questionei. Jamais soube de onde viera ou como fôra escolhida. Como fôra trazida para ali. Uma lacuna que hoje me atormenta. Você saberia isso?

Fui imoral - não, melhor: amoral. Ela não significava "amada", "amante", nem sequer "indivíduo". Eu não a tinha como uma igual - ela era minha propriedade, um objeto utilitário. A esfregava na cara dos meus rivais do CANNIBALS - ela era a prova em carne do quão rápido eu subira, um troféu pelas minhas realizações. Era minha boneca em todos os jogos... Além disso, sustentava minha existência vazia com sua presença firme e determinada. Sintonizada comigo, como eu jamais valorizei antes... Cozinhava. Ouvia. Cantava e dançava frente ao meu tédio. Posava nua quando eu voltava semi-catatônico. E eu? - despejava nela o mais escuro de mim, vomitava nela o que me corroía, sem piedade, aos berros, aos empurrões, machucando.

Raras vezes... permitia-me usá-la como abrigo. Era quando mais me constragia... Era quando só podia haver ela e suas mãos pequenas e macias, sua voz numa melodia suave, seus olhos, fortes e doces, a batida de seu coração me acolhendo num abraço... O mundo se dissolvia e eu ficava em branco.

Errei tanto com ela e de tantas formas e com tanta veemência... não entendo como ela pôde ainda me aguardar e desejar que eu a buscasse!... Ela parece não ter lhe contado as piores coisas sobre mim - não mereço que ela calasse meus pecados... Te confesso: fui vil - tentava torcê-la quando ela abria a guarda e se importava comigo ou nas horas em que eu me sentia transformado por ela. Quis quebrar seu espírito. Ela jamais deixou: até o último olhar que trocamos, ela mantinha-se sem baixar os olhos, indomável, majestosa, digna, confiante, íntegra.

Quando ela se foi - deixa te contar isso, sem maquiar nada: não senti falta. Não no momento. Cheguei tarde e caindo de cansaço. Uma outra fêmea, nua e com um largo sorriso branco, me esperava no lobby... Decepção e curiosidade - tesão. Foi assim. Eu a tomei na mesma cama, com o mesmo intento e adormeci da mesma forma. Sequer procurei sua mãe nos cômodos - antes ou depoi - para certificar-me dela não estar me evitando, por alguma birra e se ver assim trocada - e sabia o quanto ela detestava quando eu subia em outras mulheres. Foi assim: sem despedidas, sem explicações de ninguém, sem bilhetes ou rastros...

O incômodo - que somente conversando com o Santo identifiquei como "saudade" - cresceu ao longo de várias missões e seus breves momentos de descanso, quando à minha espera estava somente aquela outra, neutra, disforme e insossa. Nem assim pesquisei seu sumiço ou seu paradeiro. Questionar não fazia parte de minha rotina. Hoje sinto que ela me deixou esse oco, aqui, bem dentro. E não há outro que preencha isso...

Sei pelas tuas palavras o fim dela... Porque a jogaram aos Prostíbulos? Foi porque ela engravidou de mim? E como ela pôde? Por que se esforçaram em acobertar isso e por que iriam permitir que você saísse da vigilância deles? Nunca soube de nada assim. Não entendo o que lucrariam...

Tuas experiências contadas entre lágrimas e xingamentos ficaram bem gravadas em mim. Me provoca mal-estar saber que não estive lá para te apoiar, nem para ela. Que eu sequer pensava em vocês. Não há como amenizar isso. Também não há trilha de volta, conserto...

As feridas - temos algumas em comum. Talvez um dia possamos falar disso, talvez um dia possa aliviar minha memória contigo. Porém você viveu coisas que jamais experimentei: teve uma mãe e depois a perdeu, foi oprimido sem saber como se defender, roubou só para ter o que comer sob culpa. Sim, fui oprimido - mas não era indefeso. Sim: eu roubei, lutei, apanhei e mesmo matei para ter o que comer, para sobreviver e comer - mas sem culpas, e depois por orgulho.

Se pudesse estar ao teu lado... Nenhuma mão chegaria em ti. Seria teu telhado na chuva. Teu cobertor no frio. Teu guia quando estivesses perdido. Teu companheiro se sentisse-se só. Tua mão jamais se sujaria, pois não te faltaria o que comer. Nem para quem voltar...

Se eu voltar e você estiver me esperando...

aquele que chamam por Ash.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

One

Eu nasci num dia frio e inerte.

"N
úmero sete"...

Não que eu não existisse antes... Lembro vagamente de vozes... muitas. Cânulas incômodas repuxando pele e músculos, aqui e ali em meu corpo semi-adormecido. Escaras desse contato... O conforto de um líquido... viscoso e morno, erguendo-me. Uma luz verde, irritante, no meu olho direito.

Lembro de sentir a invasão em minha mente, de tempos em tempos. Não sabia que era eu. E que aquilo era eles. Sonhava com imagens. Frases.
Normas. Inscrito em círculos de instruções. Impulsos dominavam minhas fibras. Um marionete cego, reproduzindo movimentos, mergulhado em subconsiência. Disritmia. Um universo esquizofrênico. Panos sobre panos, sobre panos que não sabia o que ser, parecia querer rasgar - as palavras sem falantes, as falas sem um toque. Solidão, apesar de sentir presenças. Um mundo abstrato, inabitado, meu ego preenchendo tudo e aniquilado. Consigo recordar, com calafrios, suor frio e terror. Não é fácil lembrar, não é simples, ainda.

Hoje as memórias me vêm, muito nítidas: abri os olhos. Um borrão branco explodiu em meus nervos ópticos. Minhas mãos apalparam à frente - um vidro. A blindagem do ventre que me sustentou até aquele instante, sem eu saber, tato - novo, nas pontas de meus dedos -, mas já sentira o vidro, já tinha aqueles dados. Era mesmo como o real. O susto de ver meus dedos, a primeira vez. A ponta curva de minhas unhas. Não deveria ser assim. Então, percebi, além da barreira, um ente, outro, não eu, não os sonhos, outro alguém, um alguém que quando eu fechava os olhos, ou piscava, não sumia, nem mudava de forma.

Era uma menina. A palavra veio, mas não consegui dizê-la, apesar de saber que deveria mover meus lábios para isso e expirar, modulando as ondas com minha língua. Só borbulhas no líquor esverdeado... Encarei-a, curioso, agressivo. Ela olhava prá mim, através do tubo, através do líquido, através de meus olhos. Algo, não sei, uma pontada de sofrimento em algum canto. Eu não sabia que aquilo era sofrimento, não ainda. Mas não reagi bem.

Mesmo assim, continuei fixo nela, rilhei meus dentes. Tinha cabelos muito escuros que refletiam belos esboços de luz e olhos límpidos, colocou a mão pequena e fina palma a palma contra a minha, o vidro nos unindo, nos separando. Li nos lábios dela, um sussurro: A-S-H. E uma sensação de ternura, que também não conhecia nem sabia o que era ou sua denominação, invadiu minhas veias e amoleceu meus músculos. Havia esquecido disto por longo tempo... Mas neste instante, chego a re-sentir, minha visão estremece e sinto-me reconfortado. Eu recostei minha testa contra o tubo e fechei os olhos e quis que tudo parasse e voltasse a ser como... ... ... não sei... ... ...

Naquela manhã, na sala cheia de bips, uma sirene tocou. Relembro o som, ecoando distorcido e abafado no líquor. As luzes, piscando vermelhas e uma coleção de rostos encimando jalecos brancos com o mesmo símbolo no peito, na manga. Relevos metálicos ao redor, botões, painéis cheios de gráficos e flashes, e o zunido infernal de uma multidão de máquinas e aparelhos trocando mensagens eletromagnéticas.

A subida daquele muro que dizia: este espaço sou eu. Como num parto, minha água, lançada ao chão. Esvaziado. A nudez ao alcance deles, misturando-se a eles. Sentimentos de agorafobia. Uma centelha em mim crescendo e apagando-se, em brasa: presas - superiores - presas - superiores - onde está minha casa? Casa - palavra fora de sintonia, ruído.

Agonia: ar solubilizado em água por ar seco, pulmões queimando, traquéia, narinas ardendo. Então o olfato. Reconhecer o peso do meu corpo. Pressa e medo. Missão. Ativado. Sobreviver. Ser o melhor ou morrer, o único teste. Nomes de coisas surgindo a cada ângulo capturado pelos meus olhos. Vozes e posso entender, devagar, o que dizem. Torno-me esperto, alerta, uso suas informações, gestos, tudo que aprendo - sei que sou seu predador, sei que sou seu soldado - algo mais - sussurra um fundo.

Ela. Ainda. Mais atrás, protegida. O olhar assustado e sôfrego sobre mim. Oi, por que me olha assim? Quero... te... esganar...... ... Quero que segure minha mão... ... ... Suas mãos unidas juntas. Meu cérebro fulminou: "posição de prece, pedido de alguma graça, ou reação perante hostilidade e perda de confiança, sintoma de desespero, entrega de objetivos pessoais a algo abstrato que pessoas fracas supõem existir para protegê-las de seu destino". Seu gesto inundou minha retina. Minha boca quis balbuciar algo, mas era destreinada. Está tudo bem... ... ... Eu me seguro... ... Venha até aqui...

Uma enxurrada de mãos e instrumentos tocou minha superfície. Sentidos oscilando, fortes demais, descalibrados. Tantas texturas, sensações. Gelado, gelado, perto demais. Uma seringa, um imobilizador de aço. Quis atacá-los, mas um homem ergueu a voz para mim e meus neurônios queimaram. Contorção de braços, enosando tendões. Eu, prostrado. Primeira lição. Protocolos...

O dia em que nasci ficou nas trevas por muito tempo... Mas lembro, agora, você esteve lá. Por que?... E é como se eu te conhecesse de antes... Como? Quando?!...

O dia em que nasci foi só o primeiro de uma série, tão absurdos que por tempo demais, eu me neguei a lembrar. Ainda assim, você não desistiu de mim. Você sempre esteve ao lado, não é? Uma flor perfumando o vento, mas oculta num jardim murado. Sempre esteve envolvida comigo. Não entendo porque. Agora percebo que perdi de te perguntar. Oi... você... ainda está aí? Eu queria te...

agradecer...
[te levar...]

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Now playing: Gotan Project - Epoca

via FoxyTunes

domingo, 21 de setembro de 2008

Worn my world, wolf, wonders my words, so wrong

Alcatéia...

Assim chamou-nos a minha origem. Disse que essa era a minha pretensão. Talvez ele esteja certo.

Sinto um dever em mim para contigo. Visceral. Isso eu sei. Então, poderia ser pretensão? Pode ser que ele esteja errado.

Não seria a primeira.

Você é agressivo comigo. Mesmo assim, sinto que devo ser paciente. Instintivamente lembro que ser desafiador faz parte dos mais jovens. E lembro outras coisas minhas que me fazem rilhar os dentes. Coisas pelas quais eu esganaria teu pescoço, só para jogá-las no esquecimento. Ou não?

Não é meu único dilema.

Que fique claro: eu comando. Dardejo teus olhos com os meus. Desfilo minha força ostensivamente. Ainda assim, encara, duvida, troça. Que há com você? Não se importa em por a si em perigo, desde que não rasteje por nada... Ah, e que foi que te fiz?

Tua fúria é estranha, também.

No meio da estrada, teu pêlo. Preto como o meu. E olhei no teu olho. Agudo e violento como o meu já foi há tempos. Palavras ácidas. Síndrome de repúdio.

Mas tua companhia me conforta.

Será engano pensar que somos um par de semelhantes? Porque agora é tarde para recuar à segurança. Já sabe de meus planos, tanto que não contei a ele, e já dividimos minha fúria pelas tuas palavras toscas. Tu tentas me derrubar com que objetivo, garoto?

Acha que não deveria ter te trazido comigo, hm?

Até mesmo minha família, fingida, desejada desde as raízes insólitas de uma alma inventada em mim, te dei a conhecer. Ela é muito mais minha porque a fiz assim. Queria que tu desses passos para dentro. Pareces preferir a solidão.

E o passado, aí está, em comum, ponto a ponto.

Quer dizer que tudo isso e ainda mais, que não digo, pode caber numa única palavra? Nessa designação descrente e humilhante? Pretensão.

Oito patas numa trilha esmaecida e esburacada. Dentes. Pulsos violentos. Tangentes, círculos e paralelas. Você é... minha Alcatéia...?

sábado, 20 de setembro de 2008

The name of the game - it cames, never the same - insane

Palavras... Labirintos de palavras... Redes. Armadilhas nessas distorções de som significantes. Tu me caças através delas... Eu?... Eu as fio para ti, interminavelmente, mudando a direção e o sentido a cada puxada de linha. Como Penélope, ganhando tempo. Ou como Ariádne... Jogos...

Tua loucura corrói cada fibra do teu pensamento, posso apalpá-la no fundo do teu olho, cor de poente, na desconstrução de tuas frases contraditórias com teu semblante. Ainda há algo teu em ti? Ou quando estamos loucos, estamos livres para sermos puramente nós mesmos, um pouco cada voz que nasce em nós, todas, em mesma importância e altura irrompendo em nossas bocas e através de nossas mãos?

Cada nova sentença que deixa teus lábios, meus lábios, é anotação de um julgamento subterrâneo que ocorre agora mesmo entre nós. O meu é: há chance para salvá-lo? Há chance para salvar-te também? E haverá ainda alguma para mim?... O teu, só posso supor...

Arrisco. Vomito o pior e o retorço outra volta. Fui longe dessa vez. Vergonha. "Drako" como uma oração, um pedido de perdão. Uma brecha em ti. Te peguei em minhas linhas falsas. Espio pela tua carne aberta ao âmago de tua ferida. Ondulações rubras, fogo, orgulho, explosão, dentes de leão perdidos numa ventania. Havia algo forte demais. Depois, um ponto de quebra, súbito. A luz agora refratando nessa rachadura em ti e reproduzindo espectros distorcidos - monstros de teus sentimentos, monstros de teu coração partido.

Tu mandas a morte para ele. Eu ruindo. Não posso ir. Não estarei, ombro no ombro. Rasgando dentro ergo para ele minha confiança - ele vencerá.

Passagem. O gesto de tua mão. Não gosto de como me olhas. Passo. Refluo, escoando, um pouco de vocês todos que são como ele. Restos de coisas tuas e de teus semelhantes, semelhantes dele. E de mim, o que roubaste antes de sair do espelho?...

Um lago. Eu não te pertenço, porque este vínculo? A Mãe de Tudo habita um paraíso dessacralizado. O imundo ocupando o altar diante do Crucificado e rindo, devorando. A pulsação contaminada, infestante. Um corpo de enganos e tanta energia. Os olhos...

Conto segundos, agarrando-me à estratégia, fugindo do desespero de ansiar revê-los, talvez sejam os últimos... Aferro-me a meu objetivo, protejo minha razão.

Ainda vivo, minutos depois, testemunha do sintoma de tua queda. Respiro sentindo o peso do que aprendi de ti. Compartilho com ele ou o traio e acabo contigo?... Tu me lanças o teste. Eu avanço para ele, como quem sabe que está para atirar-se do precipício às pedras. Oscilo. Cumpro - desisto - cumpro. Preciso resistir a tudo que me chama de volta e parece mais forte que minha vontade.

Tenho que salvá-lo... Àquele que, um dia, - quando? - foi teu companheiro, também. Àquele que viu uma noite ser iluminada por fogos ao teu lado, eu sei. Sei porque ele o fez comigo também.

Tua improvável salvação pesa sobre mim. Minha improvável vitória pesa sobre mim. A cada passo afundo e é o mesmo nome - o dele, sempre - que alimenta meu peito cinzento e frio. O Sol daquela presença, insubstituível. "Como estará?" a indagação muda tensionando minha nuca, meus pulsos. O céu naquele olhar. Distante e profundo. Maravilhoso e invicto, intocável. Exceto rápidas pulsões. Cada pequeno acorde que são aqueles que lhe cercam.

Junto meu corpo entre penas negras de um coração selvagem. Corra. Voe. Fecho os olhos e tudo se esvanece, como se jamais houvesse existido - mas não há como negar, pois eu não sou mais o mesmo.

Somente me deixe terminar com isto... rapidamente...

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Now playing: Breaking Benjamin - So Cold
via FoxyTunes

sábado, 13 de setembro de 2008

Red roses are blue, I left you but I will never leave you

Covered and coarse
I could wait my turn
to pay them all back
- So original! -
Lets take it all back!
You can hide but I wont, how do you know?
(blacked out and bleeding)
- Take it away!
One look and you'll never believe,
Because, this cant hold us down...

- If I wake up
on my own,
- If something happens,
Please come home...
- Wake me up before you go!

If you never know
That it can never hurt
As much as this does
- Its so original ! -
Lets make this all work
You could run but I wont, how do you know?
(blacked out and bleeding)
Take it away!
One look and you'll never believe,
Because, this won't hold us down!...

- If I wake up
on my own,
- If something happens,
Please come home!
- Wake me up before you go on!!!

You cant hold us down / This wont hold us down /You cant hold us down!

- If you wake up (If I wake up)
On your own (On my own)
- If something happens
Please come home!... (You wont stop us now)
... Wake me up before you go!... (Nothing will hold us down)
I hope your happy on your own!...


[Grand Unification - Part I ~ by Fightstar]

Se um dia, eu acordar e você... Volte, por favor. De cada batalha, volte. Esta é a tua casa... Se um dia, você acordar e eu... Não me procure... Minha morte mil vezes por tua vida. E o azul dos teus olhos que rebate este céu sem limite. Nada me deterá, te asseguro. Nada me daria mais satisfação, eu te juro...

Voltas de cores anil, vanilla, o esmaecer de dourados. Marcado a ferro por ti, eu a permito ao meu lado. Tua Fenrir. Risadas e palavras tuas quebrando meu passado sobre o asfalto. Uma lição pulsante a Sol nas tuas palavras. Roucas. Me alveje, aqui, rente às costelas. Mais um pouco, como em Midgard. Quente e macio. Sangre de mim tudo que fui... A luz nas curvas dela, rebate o metal de tua arma. Nossas lutas, ombro a ombro, a orquestra de metais de nossas lâminas, de cada movimento teu, pesado, ribombar do ritmo marcado, e a harmonia de linhas vermelhas rasgando por minhas narinas...

Eu definho e perco folhas ao longe. Sou inverno, galho seco, espada. Sem guarda. Sem bainha. Tudo que tinha... Fecho o olhar em qualquer sombra. Porque me assombra tudo que abandono. Sem retorno. Ah, estar tão encantado por esta vida me perturba. Porque essa ânsia me turba. E preciso estar imune. Preciso ser somente um gume.
Flecha ao vento. Pelo ar, sem lar, me torno só ponta. Nada mais conta. Não te importes comigo. Sonharei contigo dentro do peito do teu inimigo.

E eis que eles, ainda antes, me encontram. Sorrio. Tambores de batalha clamando aqui dentro. É chegada a hora. Agora, que venha meu destino. Dedico tudo a você, a eles, a vocês... que a venda desta minha alma, que tudo que derramar de mim neste sólo, seja meu poema a ti, a ode que componho com meu corpo a todos os dias que virão diante de teus olhos. Azuis, como o céu deve ser, ainda mais, para vocês. Dourados, como o nascer do Sol afagando teus cabelos. A cada entardecer, vermelho e depois negro, como esta mancha, que fui eu.

Mudo estratégias. Me ofereço. Sou a isca. Engolem-me.

Cada um deles, um pouco tu. Nada tu. Absorbo o que posso, dele, do outro também, daquele escondido. Linhas divergentes da mesma matriz. Teu irmão reina. Me cerca, como um leão louco, de quem o rugido pode anteceder a simpatia, ou o ronronar a morte... Me sonda, entre crer em mim e me apunhalar. Um examinar esquizofrênico. Cênico. Teatral. E me pergunto: o quanto disso é teu, o quanto disso é dela? Quanto mal realmente desejas?

Escuto. Se não vê-lo, quase tu. Cada detalhe, aqui, fundo em mim. Mas minto... Digo-lhe o avesso do que sinto. No absinto desta entrega, assassino tudo, e o que não puder, sobre isso, fico mudo. Sou de novo... vazio... um oco... onde o sopro da vida... produz sempre o mesmo eco:

Morra.