terça-feira, 4 de março de 2008

Top Distopia over Scapular Scatters

Eu caminho sobre uma estrada de ossos num mundo branco e preto...

Conto números infinitos em bilhões. Meu peito ressoa em batidas fortes, eufóricas...

Sou o melhor de todos eles, inquestionavelmente.
Quero ler meu placar e confirmar isso, mas, em meu pulso, a tela verde cintilante em decibéis e bytes revela: "SAUDAÇÕES PARA O MELHOR QUE SE PODE COMPRAR DA CIÊNCIA! PAPAI GASTOU BEM O DINHEIRO DA SHINRA!"

Há algo errado.
Passo a passo, a dúvida cresce. Angústia. Falo e o áudio chia. Ninguém responde da sala de comando. ROGER - C TEAM - WAY HOUR INTO TIGER EMPTY - STRIKE NOTE - CLEAR - DABLIO MOVE - ARE U COPYING ME? - ROGER. Modulações de estática. Craquelares sob meus pés. Silêncio do lado de lá.

O gosto de meus oponentes pesa cada vez mais sobre minha língua. Tento de novo. E de novo. Outra vez. Minha voz esganiça-se ao passar das horas até um crocitar impossível de distingüir em palavras. Abandonado em missão. Volto. Xingando, mas voltarei a pé mesmo que gaste semanas.

Caminho. Ando. Movo-me. Percorro. Ossos. Crânios. Fêmures. Vértebras. Igual. Sinto a distância escoar entre meus passos - mas o caminho até em casa... não encurta. Há algo infinitamente errado em tudo. Em mim. No Mundo. Desde quando, uma casa?...

Horizontes caiados. Céu puro. Chuva suja. Um ar saturado de fins. Perdido. Sem retorno. Corro. Arfo. Acelero. Asfixio. Algo em meu peito. Dói. Feições. Vozes. Uma dor. Funda. Oca. Traiçoeira. Quero... você. Vocês. Chegar. Onde. Pertenço. Onde. Sou necessário. Sou. Urgente.

Apresso-me. Sons. Tato. Milhões. Mortos. Quebro. Quebro. Quebro. Emperro. A bota. Presa. Puxo. Arqueio. Atiro. Solta, porra!!! Pressinto. Algo errado. O rabo do olho. Olho. Não olho. Ela. Canela. Desafiadora. Orgulhosa. Faminta. Olho. É ela. Não. O cheiro. Abaixo. Vou tocar. Retrocedo. Ergo-me. Afasto. Por que? Flores de aço.

Tento voltar. Objetivo. Era ela. Seja objetivo. Chegar lá. Confuso. Lembranças. Estranhas. Perdi o olho. Perdi crianças. Tirei do lixo. Quando? Tropeço. Arfo. Meus dedos. Eu sei. Não quero. Vejo. Miguel... Moscas bebendo nele. Olhos. Como xícaras de vermes. Bato nelas. Seguro nele. Incorreto. Estupidez. Nada a fazer. Alvo silenciado. Alvo... amigo...

Como??? Tenho que chegar. Lá. Lá... onde? Corro. Tento lembrar. Meu peito dói. Uma coisa negra. Aqui. Na minha cabeça. Náuseas. Shinra. Srta. Lúnia. Escadaria. Tubos. Febre. Algo à frente. Quebro. Quebro. Enxarcado. Perto. Mais perto. Uma estaca. Mais. Mais. Não. Uma... cruz. Cruz. Negra. Alta. Ergo o olho. Sinto seu peso em mim. A gravidade dela cai em mim. Força meu corpo. Botas tremem. Joelhos vergam. O sangue dele pinga. Olho no olho. O Santo. Muito forte. Tão mais forte. Lá. Se soltá-lo? Frio, azul. Uma lembrança. Ele... consertaria?

Tudo gira. Gira. Me perco. Resvalo. Grogue. Chove demais. O Oceano sobre nós. Sobre... eu. Um lugar. Urgente. Onde, eu...? Não. Não é na Shinra. Onde? Prá onde? A água sobe. Torvelinhos. Turbilhões. Engasgo. Nado. Afogo. Cabelos dourados. Morangos. Gosto na boca. Tubos. Colegas. Corpos brancos. Milhões de outros eus. Não! Espera! Nado. Proteínas em degeneração. Tripas.
Turbilhões. Descartável. Somos. Coisas sem alma. Braçadas. Estertores. Convulsões. Um grito rouco. Preciso... chegar... Sou... necessário!

Tudo escorre ralo abaixo. Sobra eu. Folhas de um livro velho. Grudadas em minha pele. Mofo. Letras bonitas. Arfando. Vomitando. Tossindo. Zonzo. Uma voz mecânica. "Você é o único de pé." Não! Não, eu? O que?! O vidro abre. Lembro. Ali. O guri. Meus gens. A fuga. Corro. Corredores. Escadas. Degraus. Barulho alto. Vibração. Geradores. Som. Arquejo. Meus... ouvidos... Avanço. Sala de reatores. Luzes enegrecidas. Piscando. Colapso. Mal respiro. Percebo. "Era aqui! Aqui... que eu... deveria estar..."

O mako reveste tudo com seu fulgor. Lá. Lavado de azul, te reconheço. Firme nas tuas pernas. Costas eretas. Agonia. Veio aqui sem mim? Falhei contigo? Ando para ti. Chegar. - Falhei, não foi?!! - Tão mortos! - Por que me preocupo? - Tão todos mortos!!! - Por que dói em mim??? Preciso, chegar. Olhe prá mim. - Fale algo! Resvalo em gelo, sangue. Caio. Marcado de escarlate, levanto. Um monstro negro em minha garganta.

Estendo os dedos para ti. Estendo a luva. O braço todo. O corpo, um pseudópode, para ti. Preciso alcançá-lo! Tocá-lo. Só não posso falar. Vou me trair, se falar. A voz, vai tremer. Ondas de pensamento naufragam "Tá tudo errado! Isso não está nos nossos planos! Entende? Há coisas que um homem deve fazer! Eles confiam na gente!" Chego em teu ombro. Cada falange congela e cola nele.

Congelam...

Aos poucos, deixo-me entender o que isso significa...

O Mundo pára...

Eu travo meu ar, atônito...

Agonizo atrás de ti. "O único de pé."

Sinto o olho arder, o peito arder. "Isso é chorar."

Falhei.

Não caí.

Mas...

Falhei!

Escuto o bip.

Meu coração dispara, torcido.

Letras emergem em rajadas cítiricas:

UM CÃO JAMAIS ESQUECE SEU DONO.
VOCÊ NUNCA NOS DECEPCIONA.
A SHINRA LHE PARABENIZA.

domingo, 2 de março de 2008

Tangerine swings and lilac bullet strings - my fault my sin

Sobre o motor ronronante, descansei meu peito. Tu me perdoavas. Fui inconseqüente. Teu olhar azul me absolve. Teu braço me segura aqui. A promessa que te fiz me segura aqui. Não posso cair. Mais que orgulho, dever. Mais que dever, missão. Mais que missão, meu destino. E o deles.

Falhei com todos. Precisava... Sabia que podiam estar vigiando aquele ponto. Fui mesmo assim. Minhas vísceras convulsionavam, minha mente tremulava como uma chama no vento. Desculpe. Era tão forte. Tão irresistível, a viagem será longa... eu não podia ficar sem...

Matei dois deles... Eu tava alto. O beco era silêncio e balas de metralhadora. Aquela garota. Paletós negros. Caminhava em nuvens roxas. Os sons se imprimiam em minha retina como curvas de néon ritmadas em lilás, violeta e branco. Não era comigo. Eles se moviam em câmera lenta. Eu tava mesmo alto...

Mas tudo passou. Eu pensei na sorte. Busquei ele, como combinamos. Esperei com paciência. Ombro a ombro com os fedelhos. Solda. Testa. Sobe carga. Enche mochila. Busca boneca. Miguel em meus ombros... Foi... diferente de tudo que já senti... Está tudo tão quebrado por dentro...

Eu os pus em perigo.

Uma emboscada. Vários carros. Mais ternos pretos. Pneus derrapando. O Santo, olhando pela janela, aflito. Gritos deles. "Há coisas que um homem deve fazer..." No espelho, os filhos-da-puta tomando o jipe. Hesitei. Minha culpa. Os corpos magriços de repente, voando... Captei o peso, a trajetória, senti em mim o impacto no asfalto corroendo-os. Estrondo de pólvora seca.

Apliquei a droga. Listras, flores iridiscentes. Pensei em ti. Neles. Sem gravidade, girei no ar como uma folha, raspei entre as duas latarias, descarreguei fogo, como enxurradas de palavras de hip-hop, inundando o colo deles. Entre meus dedos a carne de meu chicote sibila e arranca uma cabeça numa espiral verde pétalas vermelhas. Toco o macio da estrada.

"Continuem fugindo!" Implorava, implorava, ninguém ia me ouvir. Corria no sentido contrário. Voltava por cima de meu pecado. O cheiro das crianças no ar. A dor delas. Carreiras de balas. Trajetórias desenhadas de sons de disparos. Meu corpo arqueando como um bambu. Os alvos primeiro, o resgate depois, e aquilo doía, ardia. Dois, três, cinco. Membros, vísceras. Carne viva sob minhas garras. Manchas em SALAMANDER. Tropas de reforço.

As crianças. As crianças! Meu sangue, como lava. Vermelho no alvo. Vermelho no alvo. Silenciado. Uma espada ressoante. Ah! "Me desculpem..." A dor muito forte. 'Güento. Quantas vezes ele pode me fatiar antes que abra a guarda? Cuspo meu sangue na cara dele, arranco-lhe costelas. Fraqueza. Números infinitos.

Junto-as como fardos moles. Mais estão chegando. Zunidos. Pipocares. Minha pele abre aqui ou ali. Technoprene ainda desalinhada. Impactos me jogam a frente. Corro. Giro a chave. Eles vêm por cima. Mostro o poder do meu cano pra eles. Gavinhas reverberantes em azul celeste. Point-blanc. Point-blanc.

Alinho o ciclo com o ônibus pesado, meu olho está no duelo do caminhão com o jipe. Chamo as crias. Elas tão com medo. Grito, elas vêm, elas levam, eu dirijo e passo e suo e me esforço para não morder a língua.

O Padre tava numa fria. Salvas de tiros. Salvas contra eles. Os pequenos iam junto. Não! Quase chegando em ti, só mais um pouco. Não teriam tempo! Joguei o ciclo contra as rodas. Os paletós negros contra mim, melhor. O gosto do meu sangue esquentava minha boca. Subi. Golpes. Esquivas. Tua essência é forte, meu objetivo maior.

Não tirariam ninguém de nós. Tu os apartou com o corpo. O meu está em retalhos, eu me esforço, parceiro. Tudo escurecia ao meu redor, exceto a silhueta deles e o som do teu combate perto. "É preciso... Protegê-los". Meu frenezi é por suas pobres almas. Vão! Vão!


Agora, aqui, nessa cama, costurado pelas tuas mãos, sei que consegui. Escuto tua voz seca. Teus espinhos são meu prazer. Agradeço estar vivo escutando teus planos. Caio, mas me ergo quantas vezes for até derrubá-los contigo. Pequenas faíscas multicores nevam em meus nervos... Enfim, me rendo a tua ordem... veludo negro... folhas ao vento... o sorriso delas... obrigado.

Mirror crash sprouts glass rosebuds

Ergo muros entre nós, que eu mesmo destruo. Se você é tão forte, eu serei ainda mais. Jamais quis um parceiro - desnecessário. Mas quero a ti. Não. Não devia escrever isso. Mas, acha que eu me importo com o que tu pensas? Espelhos areados.

Os olhos dele vão além. Eu tento segui-los ao horizonte. Nos primeiros diálogos, sempre me perdia no meio do caminho. Ok, basta uma pista... Chuto latas em meus pensamentos, mantendo você na minha mira. O loiro dos teus cabelos ofusca as vezes. Tuas palavras mais ainda.

Você fala e suas palavras dão o ritmo a este coração. Sinto que ele foge ao meu controle. Bate mais forte e mais rápido que meus passos equilibrados. Ele acredita. E tudo se encaixa. Tudo faz sentido. Sim.
Rosas de vidro entre nossos pés. Te acompanho. Porque tu adivinhas tudo que quero antes mesmo de mim. Contigo chego ao ar livre, porque tu destravas as portas que eu não conseguia achar. Um labirinto de informações distorcidas sobre eles, você e eu.

Tu entendes isso? Tuas palavras explicam meus atos. Nessa cega liderança, percebes que vejo teus passos e neles consigo entender o destino que estou escolhendo? Através de ti, entendo a mim. Será que sabes que o que bebo em ti vai além, muito além da minha sede por um igual?

Finalmente, tu disseste. Eu sorvi para mim cada entonação da tua voz baixa, coletando cacos. Hoje escolho. O vidro desta janela não está mais opaco... Eu disse, sem falar, "sim". Disse, sem falar, "estarei ao teu lado, custe o que custar". Disse, batendo em teu ombro "pelo que me propõe aqui, vale a pena tombar". Disse, retirando meu olho dos teus "obrigado, você me mostrou o sentido da minha vida" - tive medo de que você me refletisse neles e eu me perdesse de mim mesmo.

Antevejo nascido do fogo e do caos, lavado no sangue deles - e no nosso, assim aceito - um Mundo diferente. Um quando que cederá a chance ao novo, onde as crianças criarão dias melhores debaixo do Sol. Se há um Todo... se este Todo se comunica comigo porque somos ligados... peço agora: Faça acontecer!... Olho para dentro e nesses espelhos fujo de qualquer pergunta. Em todos, projeto só o Futuro que faremos e deixo:

Amém...

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Now playing: Nujabes - Nujabes - Sincerely
via FoxyTunes

Crimson mouths cry my crimes so do I

A cidade dorme. Aqui de cima, vejo seu grande organismo putrefato respirar vagaroso. Luzes. Rumores. Escuridão.

Da beirada observo tudo, mas não mais como antes. Seis meses cheirando meias sujas de fedelhos, menos de uma semana ao seu lado. Algumas vozes silenciaram em mim. E deram espaço a outras. Olho a cidade e não a reconheço - nem ela a mim.

Minhas retinas de tapetum lucidum captam silhuetas imóveis muito ao longe. Você deve estar com ele, naquela direção. Está saindo conforme teu plano?... Fecho os olhos e invoco minha mente para a mesma energia. Tê-lo perto o fará mais forte... ou mais descansado? Ou mais feliz? Talvez todas essas coisas, quem sabe?...

Sinto a aragem como o bafo pesado dessa garganta imunda de concreto, asfalto e vigas metálicas. Me inquieto. Essa dor, estranha em mim, renasce hoje de novo. Eu tinha de estar em outro lugar. É como se tivesse esquecido algo para trás...

Reviro tudo em rápidos flashes de uma memória viva demais. Visual e olfativa. De sons claros em hi-fi. É só insônia, é só expectativa diante de uma nova missão. Você me pediu para tomar conta dos pivetes. Cá estou, não abandonei esse posto tedioso. Mas há algo importante que continua me chamando sem que eu distinga o que.

Deito sobre minhas costas, acendo um cigarro escasso, digito mais algumas palavras nesse diário. Fixo meu olho naquelas nuvens amareladas que escondem a Lua. Bytes passam. As palavras do Santo cochicham algo. As suas, cantam baixo quase a mesma coisa, mas diferente.

Meu coração atropela. O estômago embrulha. Toda a beleza do Mundo que vocês dirigem a mim e me fazem ver, traz de volta a podridão que deixei no meu rastro.

Crianças com fome. Crianças aos pedaços. Olhos miúdos em fresta. Gente ou ratos? Ratos de laboratório. Tubos. Programações. Alvos. Sangue. Sangue. Sangue. Teu sexo. Teus olhos me pedindo. O que?... O que?!... Ausências. Portas. Rotinas. Rebeldes aos montes. Rebeldes em pilhas ao ar livre. Monturos de gente. Carne apodrecendo. Lixo. Tua mão pequenina, suja. Teu choro pungente. Teu desespero desamparado dentro de mim. Estou ruindo... Ruindo... Ru-in-do... Zilhões de farpas. Tiros. Pressa. Lâminas. Tripas. Gritos. "Misericórdia". Eu destruí. Eu destruí! Destruí!!!... O Crucificado me encara. Perto demais. O Santo me abençoa. Você me estende o braço. Um homem que não conheço se curva aos meus pés. "Obrigado" ele sussurra na lama. Uma flor hoje. Um sorriso de menino. Morangos. Bocas abertas tão vermelhas e secas implorando. Crianças murchando lá fora pelo chão.

Arfo. Controlo o pulso. Acocoro-me no peitoril vendo tudo borrado. Digito e revejo. Estou estragado. Tão estragado... Meu prazer agora só evoca o raciocínio amargo de que vocês nada têm...

[to be continued...]