Sobre o motor ronronante, descansei meu peito. Tu me perdoavas. Fui inconseqüente. Teu olhar azul me absolve. Teu braço me segura aqui. A promessa que te fiz me segura aqui. Não posso cair. Mais que orgulho, dever. Mais que dever, missão. Mais que missão, meu destino. E o deles.
Falhei com todos. Precisava... Sabia que podiam estar vigiando aquele ponto. Fui mesmo assim. Minhas vísceras convulsionavam, minha mente tremulava como uma chama no vento. Desculpe. Era tão forte. Tão irresistível, a viagem será longa... eu não podia ficar sem...
Matei dois deles... Eu tava alto. O beco era silêncio e balas de metralhadora. Aquela garota. Paletós negros. Caminhava em nuvens roxas. Os sons se imprimiam em minha retina como curvas de néon ritmadas em lilás, violeta e branco. Não era comigo. Eles se moviam em câmera lenta. Eu tava mesmo alto...
Mas tudo passou. Eu pensei na sorte. Busquei ele, como combinamos. Esperei com paciência. Ombro a ombro com os fedelhos. Solda. Testa. Sobe carga. Enche mochila. Busca boneca. Miguel em meus ombros... Foi... diferente de tudo que já senti... Está tudo tão quebrado por dentro...
Eu os pus em perigo.
Uma emboscada. Vários carros. Mais ternos pretos. Pneus derrapando. O Santo, olhando pela janela, aflito. Gritos deles. "Há coisas que um homem deve fazer..." No espelho, os filhos-da-puta tomando o jipe. Hesitei. Minha culpa. Os corpos magriços de repente, voando... Captei o peso, a trajetória, senti em mim o impacto no asfalto corroendo-os. Estrondo de pólvora seca.
Apliquei a droga. Listras, flores iridiscentes. Pensei em ti. Neles. Sem gravidade, girei no ar como uma folha, raspei entre as duas latarias, descarreguei fogo, como enxurradas de palavras de hip-hop, inundando o colo deles. Entre meus dedos a carne de meu chicote sibila e arranca uma cabeça numa espiral verde pétalas vermelhas. Toco o macio da estrada.
"Continuem fugindo!" Implorava, implorava, ninguém ia me ouvir. Corria no sentido contrário. Voltava por cima de meu pecado. O cheiro das crianças no ar. A dor delas. Carreiras de balas. Trajetórias desenhadas de sons de disparos. Meu corpo arqueando como um bambu. Os alvos primeiro, o resgate depois, e aquilo doía, ardia. Dois, três, cinco. Membros, vísceras. Carne viva sob minhas garras. Manchas em SALAMANDER. Tropas de reforço.
As crianças. As crianças! Meu sangue, como lava. Vermelho no alvo. Vermelho no alvo. Silenciado. Uma espada ressoante. Ah! "Me desculpem..." A dor muito forte. 'Güento. Quantas vezes ele pode me fatiar antes que abra a guarda? Cuspo meu sangue na cara dele, arranco-lhe costelas. Fraqueza. Números infinitos.
Junto-as como fardos moles. Mais estão chegando. Zunidos. Pipocares. Minha pele abre aqui ou ali. Technoprene ainda desalinhada. Impactos me jogam a frente. Corro. Giro a chave. Eles vêm por cima. Mostro o poder do meu cano pra eles. Gavinhas reverberantes em azul celeste. Point-blanc. Point-blanc.
Alinho o ciclo com o ônibus pesado, meu olho está no duelo do caminhão com o jipe. Chamo as crias. Elas tão com medo. Grito, elas vêm, elas levam, eu dirijo e passo e suo e me esforço para não morder a língua.
O Padre tava numa fria. Salvas de tiros. Salvas contra eles. Os pequenos iam junto. Não! Quase chegando em ti, só mais um pouco. Não teriam tempo! Joguei o ciclo contra as rodas. Os paletós negros contra mim, melhor. O gosto do meu sangue esquentava minha boca. Subi. Golpes. Esquivas. Tua essência é forte, meu objetivo maior.
Não tirariam ninguém de nós. Tu os apartou com o corpo. O meu está em retalhos, eu me esforço, parceiro. Tudo escurecia ao meu redor, exceto a silhueta deles e o som do teu combate perto. "É preciso... Protegê-los". Meu frenezi é por suas pobres almas. Vão! Vão!
Agora, aqui, nessa cama, costurado pelas tuas mãos, sei que consegui. Escuto tua voz seca. Teus espinhos são meu prazer. Agradeço estar vivo escutando teus planos. Caio, mas me ergo quantas vezes for até derrubá-los contigo. Pequenas faíscas multicores nevam em meus nervos... Enfim, me rendo a tua ordem... veludo negro... folhas ao vento... o sorriso delas... obrigado.
{ ... in a world of carbon fields, acid rain and rusted iron limbs, our kisses are just holographic designs floating over the cold network... there are no more prays to be listen... shallow oiled minds... his blood... so so green... as a revenge of nature growing inside his toxicated bones... as a sick thin hope to our lost souls... }
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