quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Steel drops from a grey mind

Quem somos, quando não somos ninguém? Quando o que somos define-se pela instrumentabilidade? - coisa que deve funcionar - Quando não somos, somente servimos?...

Não pense que eu não sei meu lugar! - Sei!... Fui feito à imagem não de Deus, como você, mas de um instrumento necessário ao Homem. Estou na prateleira tanto quanto aquela xícara em que você bebe, ou esta adaga com a qual poderia lhe cortar as tripas - não! Hey!!! Espere!!!

Não vá!... Não deve se preocupar, eu já não funciono mais - não como deveria... E quando me ponho em ação, tenho a impressão de que alguém, talvez você, me pegará confessando em voz alta: - "estou estragado! terrivelmente estragado!!! não sou só inútil, sou uma piada, um avesso, um traidor, um câncer! como o tal Lúcifer, me levanto contra meu próprio Criador..."

Quando sentei ao lado dela, naquela escada... aquela conversa me contaminando, minando todas as minhas certezas... destravando pensamentos que jamais deveria ter tido... lá, naqueles degraus, já estava estragado... Antes que você me dissesse a primeira palavra, de alguma forma, imperceptível, eu já estava incubando isso...

Muitos passos antes de invadir... de violar... de destruir... de trair... de eliminar alvos amigos... Não, não foi a partir do momento em que me recusei a cooperar, em que me recusei a ser silenciado... Fraquejei antes. Eu tinha um defeito que ninguém percebeu. Uma falha qualquer, onde? por culpa de quem? nos meus genes? no meu treinamento?... Ou foi algo sorrateiro, que nasceu à revelia de qualquer programação, meu primeiro fruto, minha primeira decisão?

O que sei é que tenho gosto de ferro em minha boca. Que ranjo os dentes de cabeça baixa quando passo horas com minha cabeça zunindo. E sei que virão me exterminar. E que, quando conseguirem, se livrarão dos meus restos como se fossem merda. Mas não sei se deveria seguir meu impulso e matá-los, um a um - chego a sonhar com isso e como é bom! (mesmo que tenha de lavar a porra das coxas) - começando por ele, aquele desgraçado...

Você, mulher, você, senhorita perfeita, filha mimada e dissimulada, você, um dia me fez encarar meu reflexo no espelho. Você me brindou com a morte, naqueles degraus, tudo que fui ficou sepultado para que seu sorriso ficasse maior
. Talvez um dia, eu retribua o favor, e você esteja do outro lado da minha lâmina...

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Now playing: Linkin Park - Lying From You
via FoxyTunes

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Strawberries beyond red sensations

Um dia suspeitei de ti. Não... sei que ainda suspeito. Por baixo de toda a minha procura pelas tuas palavras está uma velada, mas inconfundível sensação de perigo. Uma ossada branca no fundo do lodo. Um alerta: - tu irás me trair, em algum momento...

Eu estive só. E estou estranho. (Certa vez descobri que fantasmas são espíritos presos entre dois mundos que não lhes pertencem - o dos vivos e o das almas, ambos proibidos a eles...) - Me sinto assim... Nem CANNIBAL, nem gente como eles, com os quais durmo no chão da Igreja à seis meses...

Tenho algo que se remexe dentro de mim. Como um parasita enorme, enrola-se em meu peito. Distrai-me. Desregula meus humores. Me sufoca às raias da loucura quando tento dormir pela manhã...

Como explicar o que me aflige? Como te demonstrar o que me tortura a ponto de abrir a guarda para, abaixo de ti, - eu! justo eu! - suplicar não sei quê que me pudesse curar?! Qualquer invenção que me socorresse, que me fizesse sentir-me novamente eu. Que pelo menos me desse paz. Dirias: - "Sim, também foi assim comigo, mas agora..." ... Tu não o disseste.

Ao invés, deu-me um esbarrão e lançou-me em outro caminho. "Torne-se o que escolher ser." Certo, faço isso seguindo tua instrução. Tua, tu, o único que, sendo diferente, no entanto, tem algo de igual a mim. Mesmo assim decepciono-me, decepciono-te. Falta-me o crucial: saber o que quero.

Tu oscilas como um pêndulo num relógio louco. Hora um, hora outro. Sem ritmo a medir, nem aviso - e jamais saberei se fui eu ou outro fator, a causa desses contrastes... A calda de licor sobre a torta de morangos: o que tu rias e eu sentia em silêncio, não eram o mesmo? E tal não era a misteriosa felicidade?! ... Não?... Tudo se desorganizara, soprou-se para o passado aquela vista de dentes perolados. Sobrou o olhar frio e mortiço de quem vaga sobre a própria cova aberta.

Tenho vontades... Saber se aquela calda te dava prazer como a mim e pedir mais. E aquele som mágico de tua boca, e aquele balançar de ombros e a vermelhidão, tudo, que tudo se repetisse e tu me respondesse, dessa vez: - "Acertou!"