Então elas vêm - ruídos, ondas contorcidas em cores desacertadas, cheios de significados. Distração ao real. "Gostou dela, não gostou?" Enrolação. Mentira até. Estorvo, enquanto sentidos e gestos são tão mais confiáveis. Detesto-as. "Só... não faz igual... Não vale a pena... ... Se for sentir necessidade de tá perto... seja ela... ou quem for... o que for... só faz - não pensa... - o pensamento, no final, não vale o esforço... A privação não vale o esforço..." Obedeço. Teu corpo protegido pelo meu - estou aqui, entende? Bem aqui.
Tua boca, sem sorriso. Palavras - as deixo vibrar... Me odeio assim que as lanço aos teus ouvidos - Por que diabos insisto em falá-las?!! Como pode querer me roubar algo que já está contigo?... Matizes do que sinto dissolvidas em tolices. Tropeções em palavras. Frases decapitadas. As tuas, também. "Então tudo bem quando tudo isso terminá?" Não te digo: - Meu Céu é aqui, não há outro, não haverá outro me esperando. O cheiro do teu cabelo, o pulsar dos teus dois corações, simples, limpo...
Um resto de dourado. Apagado. Inquietações. Tu continuas vendado. Se já viu em mim, preferiu cegar-se. Pó de ossos pelo céu. A matriz de todas as desgraças, brotando de mim. Galhos negros e agudos contra minha razão, rasgando do centro a leste e a oeste, de baixo a cima... Podo, podo - E tu atiras o nome dele contra mim.
Suspenso, uma inspiração. O Santo. Meu olho busca o infinito. Deixo lá meu peito, para sorrir ainda para ti. Corvos aninham-se aqui dentro, no oco. Bicadas. Asas batendo-se contra minha garganta. Nuances demais de negro doendo minha retina. Te entendo. Tu te perdes por ele, mas ele não quer te achar... Gostaria de que adivinhasses - não, que quizesses: hey, pode ser você! Eu faria. Mas te entendo.
Azul frio espiralando contra minhas costelas. Então, um calor ameno. Como pétalas de rosa. E percebo: não importa. Fale com ele. Aproveite a deixa... Não deixe que escape o tempo que pode estar ao lado dele. Tenha pressa, amigo... Boa sorte... Tu te vais. Ausência. O amargo eu o tomo com fé em ti, e assim tem gosto de morangos... E assim alcanço um sorriso -Por ti.
Desarmado, meus pensamentos fluem, enxameiam. E o pequenino me assalta. "Então... é aqui onde vocês gostam de ficar... Dá pra entender porquê."
Olho ele, tão sério e jovem. Então o faço rir. Seus gestos... lembram os dele. Falo sobre nossa missão, pois preciso checar sempre. A Shinra... Você me pede para ser sua família. Nós todos, depois... Eu minto. Como a música diz: "you can't always get what you want..." Por que ele anda triste?... O chama: pai. Tento explicar. Metades. Ele protege todo mundo... e quem protege ele??? - Eu... Isso basta? Não. Peça ao Todo, por um milagre. Faria isso? Ele te ouviria?
Dor em teus passos. Em tua mudez. Tu retornas muito cedo. Mas estamos aqui e você faz força e ri. Gaivotas. Palavrões. Como uma família... Um beijo em tua cara. O garoto se vai. Ele te adora, sabe? - Eu não digo. Fale comigo, agora. O Padre. Pensa que vai. Não, eu não permito. Te tiro este peso - um peso que nem toda tua força pode mover.
Palavras... Palavras frias. Tuas. Meu passado, minha moral não me dão álibi - sou desprezível, tenho essa capacidade. Mas machuca que tu perguntes. Indiferença nas linhas do teu rosto. Se tu diz, acredito, e espero que não minta pra mim. Isso me quebra. Mas te perdôo.
Ofereço a narrativa nauseante de minhas tentativas frustradas. Roxo feio, verde apagado, máculas de sépia poluído. Esse fardo não é seu. Não deve. Desentendimentos. Rabiscos entre nossas silhuetas, espinhos. Cheiro de vinagre e metal queimado. Alfinetes sob minha pele. "Mesmo que eu quisesse, não posso ser pai dele, vou matá-lo, acabar com o futuro dele, como com o meu." Expiro contando. Repenso, ouvindo só o tom de tua voz. Então, entendo você. Quero que me entenda também, consigo? Essa conversa cavou uma vala entre nós...
Aos poucos, o corpo fala contigo. Para que frases? Algumas ainda escapam. Constrangimento. A maioria é esmagada contra tua pele. Meu coração as cala. Me jogo inteiro naquela vala para trazê-lo para perto outra vez. E que se foda se me arrebento. É bom. Dane-se se você tem sede de vinho, mas recebe em mim o copo dágua para continuar andando. Se tu pudesses sentir o que sinto, farias ainda pior. Que apague tudo de mim exceto o que resulta em ti. Cole o rosto dele sobre o meu, se isso te faz ainda mais luminoso e confiante. Se te dá força. A inspiração para agüentar tudo, pode vir mesmo de uma pequena coisa - que seja do que te ofereço agora...
No silêncio, borbulhas vermelhas em meu sangue. Me confesso a ti sem dizer nada. O Céu, para mim é... Linhas nos enlaçando. Branco. Suave, dourado. Um azul pulsante. Teu sopro. O hálito de nicotina e o gosto de tua saliva. A textura de teus fios. No silêncio da noite, o corte de um outro olhar.
Ruído. Interrupção. A música, aniquilada. Notas distoantes: - "Devia ter mais decência... ou ao menos um pouco mais de auto-estima... ... patético!... E pensar que aposto em você... Que decepção!... Parece uma puta viciada... que dá de graça..." Os cabelos de velho soprados ao negro. Escarra em mim em cada inflexão, sabe que me atinge. Desgraçado. Vejo nos olhos vermelhos dele: esgoto.
A raiva. Para cima, pela coluna, inflama meu crânio. Minha boca em dentes. Apesar disso, tu me pedes por ele. Apesar disso, eu travo. Frente a ele, que se encolhe, eu não avanço. Sua alma torce a minha. Eu poderia torcer-lhe o pescoço. "Ele não gosta de você!... Estúpido... ... Marionete... ... Joguete..." Asfixio. Seco por dentro. Mesmo negando. O odeio mais por isso.
Tu ouviste. Tu presenciaste... Baixo... Um borrão sujo em frente aos teus olhos azuis demais. Quero me recolher, me esconder para que não precises ver mais. Talvez você acredite nele também. Ou não... Importa?... Meus pés páram. Te vejo só. Tu ficarás aí. Só.
Então... ficarei... pelo menos eu.
Meu olhar fecha pesado envolto em tua fragrância ao longe, mas perto suficiente para ver que não te abandonarei. Tuas últimas palavras, dúbias. Plumas. Espera. O marulho leva o resto...
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