quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Fever breaths deeply on chocolate seas

Me torturo. Recordo, outra vez. Era teu corpo grudado no meu. Contra meu peito desprotegido, teus calafrios sob a coberta macia demais. Você, um cadáver respirando. Eu era o combustível que devia manter a tênua chama da tua vida acesa. Por que me importo?... Porque... você... você não pode morrer.

Meus braços se negavam a relaxar, a desabar contra ti e arrastá-lo ainda mais perto... Como eu me perdoaria por juntar-te contra mim sabendo que aquela fome ia consumir-me pelas entranhas, selvagem e veludosa, até arrancar-me tudo? Não... eu não podia abraçá-lo.

E se me obrigasse a falar?... Eu teria voz? Me socorreriam palavras com algum sentido? Correndo contra mim e para ti, eu estive duplamente fora do meu lugar. Estava quase à mercê, mas acuado demais para baixar as minhas defesas - eu o faria em pedaços. Não... nós jamais poderíamos ter ido mais longe.

Coisas espalhadas erraticamente. Todas... em todas... teu cheiro... e de novo... Em todas... todas... aquele testemunho de quem você é... Aquele lugar é você... Você está em tudo ali... Faixas de gaze... Roupas toscas... Sapatos sujos... Cama desarrumada... Pratos mal-lavados... Sei o que comeu... Como dormiu... Tuas feridas... Você me sufoca até que o deixo entrar, cada inspiração, um pedaço seu vêm a minha consciência... Eu te monto feito um quebra-cabeças interminável... Cada peça... um sentimento de advertência... o horror de talvez não conseguir abandoná-lo...

E se você...? Não... isso nunca.

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